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30.5.11

Filosofando sobre a vaidade





Da janela de minha casa, olhava para a “ quinta do solar “ onde um casal de pavões ia debicando na terra húmida pelo orvalho, quando reparei que o macho abrira o seu leque de magníficas penas , numa atitude de galantear a fêmea.
Vaidoso, pensei eu alinhando pela óptica dos que afirmam que vaidoso é todo aquele que quer chamar a atenção, destacando-se dos demais. Os que assim pensam talvez tenham alguma razão , mas não nos podemos esquecer que todos nós demonstramos uma certa vaidade no que fazemos .
Será que a vaidade é fundamento dos nossos actos ? Não sei responder, mas verifico que em algumas pessoas a vaidade é sem limites e dou como exemplos : os que criam Fundações ,por vezes inoperantes, só para que tenham o seu nome nelas ; aqueles que em vida, edificam túmulos aparatosos para o seu repouso eterno ; os que recebem comendas e outros “ penduricalhos “ e desejam depois que em vez do seu nome de baptismo lhe chamem de “senhor comendador” ou” senhor conselheiro” ; os que autorizam lhe sejam erguidas estátuas ou seja dado o seu nome a ruas ou avenidas; os que tudo fazem para serem focados por uma câmara de televisão num evento social ; os que tendo sido alguma vez presidentes de alguma agremiação e já não presidindo a nada , exigem ser tratados ainda por senhor Presidente .
Será a vaidade uma coisa inata ? Não me parece, já que durante a infância o objectivo é ser igual aos demais do grupo do bairro ou da ” escolinha”, sem haver comparações ou desejo de saber quem é o mais rico, o mais inteligente ou o mais bonito. O mal está na fase de adolescente em que, para se ser aceite pelo grupo, é necessário destacar-se . Como esse destaque pode ser difícil de concretizar , muitos jovens afastam-se dos pais e dos colegas , acolhendo-se numa “tribo” onde todos são indiferenciados.
A ânsia de destaque atrás referida , na procura de ser aceite pelo grupo de adultos, leva a uma individualização e a uma via oposta à da integração social. Vencer significa destacar-se e assim, com o êxito, vem a VAIDADE, uma espécie de droga do prazer que deve ser obtida por qualquer meio, mesmo que prejudicando os outros.
Contrariamente, a derrota significa humilhação que por vezes leva à depressão. Estar sob os holofotes do sucesso, nem que seja por pouco tempo, alimenta a fogueira da vaidade e , desta forma, as pessoas tornam-se escravas dela, criando fantasias e sofrendo com qualquer pequena e eventual derrota. Recordemos o que aconteceu em toda a parte aos vencedores dos Big Brothers televisivos e outros programas similares onde há uma efémera notoriedade . Quando os programas acabam e surgem outros ídolos do público, vem a depressão, os problemas com a droga e justiça e algumas vezes o suicídio. As pessoas que não sabem administrar a perda de popularidade, perdem o sentido comum da vida, já que passa a ser um desafio constante , uma meta sempre distante, a busca de nova notoriedade.
Voltei a olhar para o pavão e admiti que a vaidade nada tem a ver com o género nem é inata no ser humano.
É a pressão da sociedade que nos subtrai o bom senso e nos faz querer ganhar qualquer disputa , mesmo que seja uma simples opinião, e o curioso é que embora conheçamos muito bem as vaidades alheias não admitimos as nossas.
Afinal a vaidade é ou não necessária embora, em geral, seja considerada como coisa negativa ? Creio que, se não for exibicionista, como nos casos que atrás citei, ela poderá ser aceitável e se vencer não for a óptica única de vida.
Nesta minha intromissão pela vaidade ainda não referi a da aparência física que leva muita gente a ser escrava da moda . Quem não conhece os casos de dietas loucas e prejudiciais à saúde só para ter determinadas medidas corporais ? Ou o bronzeado excessivo porque é essa a moda de momento ? Quem não conhece os que desejam a eterna juventude submetendo-se a cirurgias estéticas ,não sabendo envelhecer com elegância? Quem não conhece os que gastam o que já não têm para vestirem o que viram num desfile mundano ?
Todos esquecemos que um dia , mais cedo ou mais tarde, seremos pó , cinza e nada.

11.3.11

FILOSOFANDO SOBRE O AMOR



Hoje deu-me para filosofar sobre o amor que une os seres humanos, normalmente um homem e uma mulher,e que os cientistas querem reduzir a um simples fenómeno hormonal para cumprir o designio de propagação da espécie .
Mas o amor será só bioquímica ou haverá algo mais ? O que é o amor ? Quem o inventou ? Quando surgiu ? Não me sai da cabeça o nosso épico Luis de Camões quando escreveu:
O amor é fogo que arde sem se ver……é ferida que doi e não se sente….
Será o amor aquele fluido invisível que nos entra pelos olhos, pelas narinas e pelos ouvidos e nos inebriaga modificando-nos para sempre ?. É que ele chega , instala-se , e por vezes tem vontade de partir, mas vai ficando, criando como que raízes. Pode haver quem me contradiga e afirme que ele tem um fim. Eu acho que não, ele apenas se transforma com o tempo e por vontade e travessura desse deus pagão a que deram o nome de Eros.
Difícil, é muito difícil definir o amor !….. um amigo dizía-me : uma pessoa diz eu amo-te. Tu não ligas. A pessoa vai-se embora. Tu sentes a falta e queres que ela volte, mas às vezes é tarde de mais. Tu sofres e isso é amor.
Como as crianças são mais sábias que os dultos porque são puras, perguntei a uma de seis anos o que era o amor e ela respondeu:Amor é quando alguém te magoa, e tu, mesmo muito magoado, não gritas, porque sabes que isso fere os seus sentimentos" –
Foi profunda a resposta , mas vejamos agora o que disse sobre o mesmo tema uma adolescente de 16 anos:
O amor é:
Sonhar, intuindo sensações e emoções...
Brilho nos olhos e intensa alegria na alma...
Sentir o palpitar acelerado do coração só de pensar...
Desejar estar junto, sem reservas, disfarces, cúmplice.
Tocar e ser tocada de tantas formas...
Com palavras, com silencio, com olhares, dar e sentir prazer.
Não precisar perguntar, nem responder, apenas compreender.
Falar sobre tudo ou não precisar dizer nada.
Aceitar os defeitos e reconhecer as qualidades
Compartilhar tempo e espaço.
Recordar o passado, viver o presente
e não pensar no futuro.
Maravilhoso o que escreveu Liliana Coutinho Ribeiro, em 2007, e que mostra o que é o amor , numa aluna do secundário.
Continuemos a pesquisa voltando ao amor de adultos , àqueles que perderam o ser amado, lendo Luís de Camões
Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
Alguma coisa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou
.


Ou então este outro soneto do mesmo poeta :


Quem diz que Amor é falso ou enganoso,
Ligeiro, ingrato, vão desconhecido,
Sem falta lhe terá bem merecido
Que lhe seja cruel ou rigoroso.

Amor é brando, é doce, e é piedoso.
Quem o contrário diz não seja crido;
Seja por cego e apaixonado tido,
E aos homens, e inda aos Deuses, odioso.

Se males faz Amor em mim se vêem;
Em mim mostrando todo o seu rigor,
Ao mundo quis mostrar quanto podia.

Mas todas suas iras são de Amor;
Todos os seus males são um bem,
Que eu por todo outro bem não trocaria.

Embora sem ter ainda uma definição para o amor uma coisa é certa: não é um fenómeno fisiológico. Miguel Esteves Cardoso escreveu:

«Nascemos todos com vontade de amar. Ser amado é secundário. Prejudica o amor que muitas vezes o antecede. Um amor não pode pertencer a duas pessoas, por muito que o queiramos. Cada um tem o amor que tem, fora dele. É esse afastamento que nos magoa, que nos põe doidos, sempre à procura do eco que não vem.
Os que vêm são bem-vindos, às vezes, mas não são os que queremos.
Tenho a certeza que não se pode ter o que se ama. Ser amado não corresponde jamais ao amor que temos, porque não nos pertence. Por isso escrevemos romances — porque ninguém acredita neles, excepto quem os escreve.(…..)

Continuo sem encontrar uma definição de amor, por isso fico-me por aqui esperando que alguém o consiga fazer e seja feliz.

1.2.11

QUE É PENSAR ?




Uma vez mais, sentado diante do teclado do meu computador, pensava eu num novo tema para este meu blogue NOVAS quando me ocorreu dissertar um pouco sobre o que era pensar…. mas como alguém já escreveu, haverá alguma diferença entre pensar e desfiar pensamentos ?
Julgo que me estou a meter em sarilhos, já que não sou filósofo nem cursei numa faculdade de filosofia , mas que diria o espírito do meu antigo professor liceal , Dr. Alberto Martins de Carvalho, se soubesse que eu agora parara de pensar?
Pensar, no sentido etimológico do termo, quer dizer sopesar, pôr na balança para avaliar o peso de alguma coisa, ponderar. Mas as pedras e as árvores existem, têm peso, mas não pensam que eu saiba ; quanto aos animais, alguns terão lampejos de pensamento e somente o homem tem a capacidade de construir pensamentos através da palavra escrita e falada e, com essa capacidade, transmitir conhecimentos.
Parece que encontrei um fio condutor que me leva a algum lado, por isso continuemos . Sabemos que ainda estamos longe de utilizar ao máximo o nosso cérebro, no sentido de pensar, pois os cientistas afirmam que só usamos uma parcela muito diminuta dele. Será por essa razão que não conseguimos pensar com profundidade naquilo que estamos pensando? Pode ser, mas não podemos esquecer que estamos obrigados a pensar melhor porque a vida, com as suas dificuldades, nos coloca num beco sem saída,…. tal como eu estou agora!
Claude Bernard dizia: "Assim como o homem não pode avançar a não ser colocando um pé depois do outro, o espírito ,naturalmente, deve colocar um pé depois do outro.”
É isso que vou fazer : parar um pouco para pensar e avançar, pé ante pé , nesta caminhada de pensar.
Aristóteles dizia: "A marcha natural do intelecto é partir das coisas mais conhecíveis e mais claras para nós….. “ Como consequência do pensamento aristotélico, recordo que as ideias são apreendidas, primeiramente, na sua generalidade, até de forma nebulosa e somente depois é que elas se vão sedimentando no nosso cérebro. É melhor exemplificar: pensei na serra da Estrêla. A imagem de ser muito alta preenche todo o meu pensamento, contudo, para a conhecer melhor terei de a galgar e analisar de cima a baixo nos seus aspectos climáticos, orográficos, geológicos e biológicos, pois quanto mais particular for o dado analisado, maior conhecimento se tem a seu respeito. É por isso que existem as especializações na ciência, que cada vez mais vão se distanciando do todo para tratar de algum facto em particular
Também o meu falecido mestre me ensinou que a primeira das preocupações que se deve ter para um bom pensar é saber perguntar, o que é uma arte, como ele afirmava. Ele dizia que um aluno devia ser avaliado não pelas respostas que dá, mas pelas perguntas que faz, e é por isso que a filosofia se baseia muito mais na pergunta do que na resposta pois .na vida, estamos sempre em busca de respostas.
Nesta linha de raciocínio eu pergunto a mim mesmo O QUE É PENSAR , só que não obtenho a desejada resposta.
Alto, tal como dizia o Poirot da Agatha Christie , parece que as minhas células cinzentas estão a funcionar : a actividade de pensar confere ao homem “asas” para mover-se no mundo e “raízes” para aprofundar-se na realidade logo , pensar é voar sobre o que não se sabe.
O Dr Martins de Carvalho tinha razão: Não existe nada mais fatal para o pensamento que o ensino das respostas certas, como acontece actualmente em algumas das nossas escolas, onde a filosofia não é obrigatória para todos os cursos e passou a segundo plano..As escolas devem existir não para ensinar as respostas mas para ensinar as perguntas, pois somente estas nos permitem navegar pelo desconhecido e, no entanto, não podemos viver sem respostas.
Como, ou eu não sei formular as perguntas, ou Minerva não me quer responder , considero melhor terminar este meu voo filosófico com duas ideias que encontrei na NET e que transcrevo com o nome das autoras

O que é pensar?
é imaginar?
é lembrar?
é reflectir?
ou é filosofar
O que é pensar?
Pensamos em cores?
Objectos?
Desenhos?
Em tudo o que se pode pensar
Mas nunca paramos e pensamos
O que é pensar?
(Júlia Costa Triches)





Pensar é sonhar
Pensar é morar
Pensar é criar
Pensar é viver
Pensar é querer
Pensar é amar
Pensar é olhar
Pensar é estudar
Pensar é gostar
Pensar é simplesmente legal
Pensar é muito Bom
Eu adoro pensar

(Letícia T, Magalhães dos Santos)

19.7.10

FILOSOFANDO sobre Física


Passeando distraidamente o olhar pelos expositores de uma livraria deparei-me com um pequeno livro de capa ao gosto oriental cujo título era : SEXO QUANTICO. Quântico ???Será que li bem ? Estava certo, era sexo quântico! Que coisa estranha esta de misturar sexo com Física sub-atómica. Eu sei que fui educado no pensamento ocidental, marcado por uma predominância racional, em oposição ao modo de pensar oriental que tem por base o misticismo , mas falar em sexo sub-atómico era demais . Reconheço não ser de admirar que depois de ter sido editado o livro “Tao da Física”, de Fritjof Capra, tenham surgido conceitos um tanto obscuros como “cura quântica”, “consciência quântica”, e agora este “sexo quântico”, entre outros . No Tau da Física, Capra compara a dança de Shiva – deus hindu que personifica as mutações do Universo – com os movimentos das partículas sub-atómicas descritas pela mecânica quântica e até a dualidade física onda-partícula da luz ,acaba por se transformar na unidade Ying/Yang das religiões orientais. Por causa do referido livro, grande parte das filosofias e misticismos orientais, bem como a parapsicologia e a arte de curandeiro foram apresentadas e pregadas como verdades pelos seus praticantes.
Por que teria o fisico Capra escrito o tal livro ? Tudo terá acontecido num verão de 1969, quando ele estava sentado em frente ao mar, numa praia da Califórnia, observando as ondas e reflectindo sobre os vários movimentos rítmicos da natureza, tais como as ondas, as batidas do coração e o ritmo da respiração, associando-os à "estrutura" física da matéria que, como sabemos, é composta por átomos em constante vibração. A formação e o ensino de tantos anos em Física, juntamente com o ambiente da praia em que estava, acabou por fazer Capra idealizar coisas que estão fora do racionalismo de um professor de física. Recordemos palavras de Capra:
"Neste momento, subitamente, apercebi-me intensamente do ambiente que me cercava: este se afigurava em mim como se participasse, em seus vários níveis ritmicos, de uma gigantesca dança cósmica. Eu sabia, como físico, que a areia, as rochas, a água e o ar ao meu redor eram constituídos de moléculas e átomos em vibração constante (...). Tudo isso me era familiar em razão de minha pesquisa com a Física de alta energia; mas até aquele momento, porém, tudo isso me chegara apenas através de gráficos, diagramas e teorias matemáticas. Mas, sentado na praia, senti que minhas experiências anteriores subitamente adquiriam vida. Assim, eu "vi" (...) pulsações rítmicas em que partículas eram criadas e destruídas (...) Nesse momento compreendi que tudo isso se tratava daquilo que os hindus, simbolicamente, chamam de A Dança de Shiva (...)".
"Eu passara por um longo treino em Física teórica e pesquisara durante vários anos. Ao mesmo tempo, tornara-me interessado no misticismo oriental e começara a ver paralelos entre este e a Física moderna. Sentia-me particularmente atraído pelos desconcertantes aspectos do Zen que me lembravam os enigmas da Física Quântica (...)".
O resultado da apropriação ,fora do contexto , das ideias de Capra, foram livrarias recheadas de publicações místicas , jornais, revistas ,rádio e televisões dando espaço a todo tipo de charlatanismo. Tudo por causa da interpretação aligeirada da mecânica quântica. Continuando a olhar para o livro do Sexo Quântico exposto na livraria , recordei Richard Feynman, também professor e físico quântico, quando disse: “Houve uma época em que os jornais diziam que só havia doze pessoas no mundo que entendiam a teoria da relatividade. Acho que essa época nunca existiu. Pode ter havido uma época em que só uma pessoa a entendia, porque foi o primeiro a intuir a coisa e ainda não havia formulado a teoria. Mas depois que as pessoas leram o trabalho de Einstein, muitas entenderam a teoria da relatividade, de uma maneira ou de outra; certamente mais que doze. Por outro lado, acho que posso dizer sem medo de errar que ninguém entende mecânica quântica.” O que Feynman disse há 60 anos ainda vale hoje. Não entendemos a mecânica quântica pelo facto de que o mundo das partículas sub-atómicas contradizer toda a nossa intuição e concepção do mundo em que vivemos. Ao nível ultramicroscópico o universo torna-se um lugar estranho ,ilógico, onde as partículas podem estar em muitos lugares simultaneamente, atravessar barreiras sólidas, ou não se importarem com distâncias ou o espaço-tempo. Estes fenómenos só acontecem no microcosmos das partículas sub-atómicas mas , para um organismo complexo, formado por muitas partículas diferentes, de átomos e moléculas, as leis da mecânica quântica não se aplicam . A Física clássica explica com precisão tudo o que se passa no nosso mundo macoscópico e não é preciso recorrer à teoria quântica para justificar um sonho extravagante ou experiências pessoais paranormais. Como já dissemos tudo o que acontece no nosso mundo tem ou terá no futuro explicação na física clássica Entremos então um pouco nessa física, aquela que estudei na universidade, para ter uma espécie de contra ponto com os misticismos . Os meus apontamentos universitários diziam que a teoria quântica começara no início do sec XX, quando os cientistas de termodinâmica tentaram medir a energia total dentro de um forno aquecido a uma determinada temperatura. Os cálculos revelavam que esta energia era infinita, coisa impossível perante a lógica do conhecimento. Uma onda, seja ela qual for, sempre foi transporte de energia, definida por uma amplitude, frequência e comprimento. Quanto maior for a frequência, ou quanto menor for o comprimento de onda, maior será a energia envolvida. Segundo se pensava, todos os comprimentos de onda eram possíveis no interior do forno e, desse modo, a energia seria infinita , conclusão ilógica para os pesquisadores. Então, Max Plank propôs que quando se trata de energia, não são possíveis fracções linearmente variáveis da mesma, mas sim blocos mínimos de energia que são transportados, os quanta de energia que são proporcionais à frequência da onda em questão . Nas equações matemáticas que explicavam a ideia surgia a constante de Plank: = 1.05x10^-34 kg.m²/s - número muito pequeno que só se aplica em escala atómica, mas que funcionava com incrível exactidão, embora não se soubesse bem como. Também no início do sec XIX, Thomas Young já demonstrara a natureza ondulatória da luz numa experiência simples, mas que abalou os conceitos newtonianos sobre a luz como sendo unicamente coisa corpuscular. Quase trinta anos depois, era o físico Heinrich Hertz a observar que algumas substancias como o silício libertavam electrões ao serem atingidos por um feixe de luz – o hoje vulgar efeito fotoeléctrico. Em 1905, Einstein sugeriu que, se aplicássemos a noção de que a luz também só pode ser transportada em blocos ou quantas de energia poderíamos entender os mecanismos do efeito fotoeléctrico. Cada quanta de energia corresponderia a um fotão, ou seja, a uma partícula de luz Ficou por isso aceite que a luz – ou qualquer partícula portadora de energia e momento - se comporta simultaneamente como uma onda e como partícula. Acontece porém que este carácter da matéria não pode ser compreendido completamente com base nos conhecimentos que construímos a partir das nossas experiências diárias num mundo que é composto de objectos biliões e biliões de vezes maiores que um fotão.
Voltei de novo ao pensamento dos seguidores de Capra.
Um ponto da teoria quântica em que eles se apoiam é o Princípio da Incerteza de Heisenberg que diz não ser possível prever a posição e o momento de uma partícula . (Existe uma onda, descrita pela equação de Schroedinger, que define o local mais provável onde a partícula se encontra, mas qualquer procedimento que seja usado para observarmos a partícula , afectará a sua posição já que os instrumentos ópticos utilizados, de uma forma ou de outra, terão de usar energia para o tornar observável). É no princípio da incerteza que eles se agarram para rebater a Física do mundo em que vivemos. Segundo o princípio referido, é possível que alguém possa atravessar uma parede mas a hipótese disso ocorrer é infinitamente pequena, tal como a do leitor ganhar o euromilhões todas as semanas , durante dez anos. Por que afirmo isto ? Porque no princípio da incerteza, à medida em que se aumenta a escala, os efeitos são menos observáveis e prováveis. Se as leis da mecânica quântica fossem aplicáveis ao nosso mundo, fenómenos bizarros eram comuns e para nós, seria normal estar em dois lugares ao mesmo tempo, por exemplo . Se o mundo quântico não é o nosso, porquê falar de cura quântica , consciência quântica e sexo quântico e outras coisas quânticas no mundo molecular que, esse sim, é o de que somos feitos e vivemos.
Como já li algures, é triste observar que, enquanto cientistas incansáveis materializam as leis da mecânica quântica em bens e facilidades para o mundo, os desvarios de outras pessoas, sejam elas bem ou mal intencionadas , criem um mercado absurdamente lucrativo e promissor onde o termo “quântico” é usado para vender pseudo-ciências. NÃO ENTREI NA LIVRARIA e o livro “O sexo quântico” ficou na montra. .

8.4.10

O PRINCÍPIO DE PETER


O «Princípio de Peter» foi proposto por Laurence Johnston Peter (1919–1990), antigo professor na University of Southern California e na University of British Columbia.
De acordo com o autor, em organizações burocráticas , hierarquicamente bem estruturadas, os funcionários tendem a ser promovidos acima do seu "nível de incompetência". O autor, a partir de um conjunto de observações, mostra como os funcionários costumam começar em posições hierárquicas inferiores. Porém, quando se mostram competentes na tarefa que desempenham, normalmente, são promovidos para posições hierárquicas superiores. Esse processo mantém-se até atingirem uma posição onde já não são competentes. isto é, uma posição onde as competências que despoletaram a sua ascensão já não são as necessárias para essa mesma posição. E, visto que a despromoção não é um mecanismo habitual, as pessoas mantém-se nessas posições prejudicando a organização onde se encontram. É isso que Peter designa por "nível de incompetência" - o grau a partir do qual as pessoas já não possuem competências para a posição que ocupam. Porém, não posso deixar de pensar no autor sempre que me deparo com algumas situações que parecem enquadrar-se, perfeitamente, no "princípio de Peter". Como me deparei com algumas em empresas públicas e na política portuguesas dado haver actualmente no nosso país, incompetentes em cargos de gestão e chefia , encontrei para tal uma explicação na blogosfera que passo a citar:
. Sinto nostalgia do tempo em que, quando entrei para o mercado de trabalho do Estado, o Princípio de Peter descrevia bem a gestão. Pelo menos tínhamos um chefe que fora bom em algo — apesar de tomar decisões erradas, porque não tinha aptidões de gestor — e todos tínhamos a esperança de sermos promovidos para além dos nossos níveis de competência. Só que o Princípio de Peter foi substituído pelo Princípio de Dilbert: “Os mais ineficientes são sistematicamente colocados onde podem causar menos danos, isto é, em cargos de gestão.”
Mas quem foi o Dilbert ?
Na década de 90, era bastante popular a “banda desenhada” de um personagem caricato do ambiente de trabalho chamado Dilbert. Esse personagem foi criado por Scott Adams, um americano e empregado típico - submisso e obscuro - de duas grandes corporações. As bandas desenhadas mostravam como os trabalhadores eram colocados diante de situações ridículas e absurdas por chefes incompetentes, insanos e até mesmo, sádicos. Diante disso, é fácil deduzir que elas caíram rapidamente no gosto do público. O livro Princípio Dilbert ocupou o topo da lista dos mais vendidos do New YorK Times e Dilbert chegou a ser considerado uma das 25 personagens mais influentes dos EUA
Scott Adams não perdoava nada. Toda e qualquer técnica ou método de gestão em uso, foi alvo de ironias impiedosas, pois ele aproveitava-se de falhas ou insucessos para generalizar o princípio de que tudo o que acontece no ambiente de trabalho fora cuidadosamente elaborado para alienar as pessoas.
O moral dos empregados é algo de arriscado. Os empregados felizes trabalharão mais sem pedirem salários suplementares. Mas, se estiverem demasiado felizes, começam a lamentar-se de que, com o seu salário actual, terão de viver numa barraca quando se reformarem. O melhor equilíbrio de moral para a produtividade dos funcionários é: felizes, mas com pouca auto-estima.As empresas criaram técnicas que fazem descer a auto-estima dos empregados para a “zona produtiva” sem sacrificarem a felicidade. As que se têm mostrado mais eficazes são as técnicas de humilhação. Eis as mais utilizadas:
Cubículos. São “espaços de trabalho” de pequenas dimensões, separados por biombos, sem tecto nem janelas e são transportáveis. O único contra é que alguns empregados adquirem um sentimento de “lar” na sua pequena parcela de propriedade imobiliária, surge o orgulho de proprietário e ... adeus produtividade! Mas, graças ao novo conceito de atribuição de cubículos aos empregados à medida que vão chegando, este risco pode ser eliminado. Outra vantagem é que acaba com as confusões quando se têm que fazer reduções de pessoal; o empregado nem precisa de esvaziar a secretária;
Vestuário. As empresas descobriram um método barato de obrigarem as pessoas a vestirem-se de forma humilhante, mas variada, sem terem despesa com uniformes. Eis o simbolismo de alguns acessórios de vestuário: a gravata simboliza uma trela; os collants são como grilhetas de prisioneiros; os saltos altos simbolizam masoquismo;
Programas de prémios aos empregados. Enviam uma mensagem a todos os empregados, e não apenas aos vencedores, ou seja: “aqui está mais uma pessoa que só será despedida depois de te tratarmos da saúde”;
Subestimar o contributo dos empregados. O sentimento de que o trabalho está a ser valorizado provoca auto-estima, que surge acompanhada de pedidos de dinheiro nada razoáveis. Os métodos mais cruéis que funcionam melhor são: folhear uma revista enquanto o empregado exprime uma opinião, pedir uma informação com urgência e depois deixá-la em cima da secretária de quem a elaborou durante semanas e mandar a secretária responder a telefonemas que eram para si.
Para terminar digo-lhe como fingir ser um empregado produtivo sem qualquer dispêndio real de tempo ou energia. Eis algumas dicas para o conseguir:
Seja consultor. Se não pode ser gestor, seja consultor de pessoas que fazem o trabalho. Pode necessitar de alguma especialização, mas não exagere. Quando for considerado mais esperto que os outros, não interessa se é 1% ou 1000% mais esperto;Mude frequentemente de funções. Quanto mais tempo se mantiver numa função, maior será o volume de trabalho que lhe pedirão que faça. Mude de funções tantas vezes quantas puder. Dois anos é o tempo máximo de permanência na mesma função;Queixe-se da sua carga de trabalho. Deve inserir em qualquer conversa as frases “estou atolado em problemas”, “hoje recebi 1500 mensagens de voice mail”, “vou ficar cá outra vez no fim-de-semana”. Elas vão penetrando no subconsciente das pessoas, que o considerarão um trabalhador esforçado;Mantenha a secretária desarrumada. Os executivos podem ter a secretária arrumada, mas para os restantes trabalhadores é sinal de que não estão a trabalhar o suficiente. Erga pilhas enormes de documentos porque o que conta para o observador é o volume.
Bom dia de trabalho!
(este texto é uma adaptação, com a devida vénia, de vários outros encontrados na blogosfera )

16.3.10

FILOSOFANDO ( 3 )


Há dias, alguém me questionou sobre o que era o tempo, aquele tempo que os físicos medem em unidades por eles criadas. Fiquei sem resposta imediata pois ainda retinha na memória a experiência que fora realizada pelos físicos quânticos em 2003, e na qual chegaram à conclusão que o tempo não existia. Segundo aqueles físicos havia um pequeno espaço de tempo que não existia, pois nos bilionésimos de segundo durante os quais se observa a formação de fotões, não se pode afirmar que fenómeno se passou antes ou depois, já que o tempo não passa.
Será então o tempo uma ilusão? Se a resposta divide hoje os filósofos , a ciência não oferece resposta e apenas tem uma verdade : o tempo existe apenas desde que alguém o começou a medir , primeiro com a clepsidra e actualmente com os relógios atómicos. Einstein mostrou teoricamente que o tempo é uma noção relativa e que dois relógios , por mais precisos que fossem, apresentariam leituras diferentes consoante se estivessem a afastar ou a aproximar , a velocidades próximas da luz. Também já todos nos apercebemos que às vezes o tempo nos parece passar rapidamente e de outras vezes muito de vagar, tudo dependendo do nosso estado de espírito .Dando um exemplo: uma hora (60 minutos) numa festa parece ter sido um instante e em uma situação de aflição parece ser uma eternidade. A mesma contagem de tempo torna-se diferente , de pessoa para pessoa , consoante a situação que cada uma está a viver. Perante isto voltamos ao princípio : o tempo existe ? Haverá passado, presente e futuro ? Será que vivemos aquilo que consideramos como passado, pois o que temos são lembranças ? E sendo lembranças como podemos garantir que algo realmente existiu da forma como o lembramos ? Sendo o passado uma lembrança , isto é, uma informação do cérebro, ele não existe . Nesta linha de argumentação o presente não existe porque já passou. E o futuro que vem a caminho e se vai tornando presente? Também não existe pois ele é só uma ideia na nossa cabeça. Será que o tempo não existe e é uma criação da mente humana? Sabemos que ao longo da nossa vida a percepção do tempo vai evoluindo por efeito do desenvolvimento do cérebro e do aumento da memória e das capacidades cognitivas. Expliquemos melhor: até aos 15 meses de vida uma criança não tem noção da passagem do tempo e muito lentamente , a partir dessa idade, vai tendo a noção de que o tempo é algo que passa; só lá para os sete anos de idade apreende a ideia de hora, minutos e segundos. Também se sabe que sob a acção de drogas ou por efeito de doenças neurológicas a noção do tempo é distorcida .
Para terminar, deixamos outra pergunta : quando morrermos que acontece ao tempo ? Deixa de existir ou nunca existiu ?

Terminamos com uma velha cantilena da escola
... O tempo pergunta ao tempo, quanto tempo o tempo tem. O tempo responde ao tempo que o tempo tem tanto tempo, quanto tempo o tempo tem ....

2.9.09

ABELARDO o filósofo poeta

Pedro foi o seu nome de baptismo a que mais tarde acrescentou o de Abelardo , de habelardus que quer dizer abelha, em homenagem ao historiador grego Xenofonte a quem chamavam de abelha ática. O jovem Pedro nasceu, em 1079, na localidade de Le Pallet, próximo de Nantes , na Bretanha. Por ser filho primogénito de um cavaleiro ao serviço do duque da Bretanha , aprendeu artes militares pois estava destinado a vir a ser o senhor da sua aldeia . A sua vida, no entanto, tomou um rumo diferente pois, naquela época , a Europa vivia em paz e em desenvolvimento económico e demográfico. A prosperidade material e o renascimento cultural que se viviam no final do século XI, levaram o jovem Pedro a descobrir que os livros o atraíam mais que as armas e a política , tendo-se dedicado a estudar filosofia. Aos dezassete anos muda-se para Loches, na França central, onde Roscelino Compiégne ensinava filosofia . Em breve enfrentava dialécticamente este mestre, derrotando-o em debate , ao rebater as teorias nominalistas sobre a Trindade. Dois anos mais tarde (1098) vai para Paris onde assiste às aulas de Guilherme Champeaux, afamado filósofo e dialéctico. Também aqui o jovem Pedro enfrenta o mestre Guilherme e leva este a admitir que o seu discípulo lhe é muito superior em argumentação . Em 1102 completa o trivium que era o estudo da gramática , retórica e dialéctica , ficando assim habilitado a ensinar em colégios menores Entretanto volta a Le Pallet por motivos de doença e aí continua a ler os clássicos gregos e latinos. Seis anos depois volta a Paris para estudar aritmética, astronomia , geometria e música que constituíam o quadrivium. Obtém assim o grau de mestre que lhe permite ensinar na universidade de Paris, o que vem a acontecer em 1114, com imensos alunos estrangeiros a assistir ás suas aulas e onde chegou a ser reitor. Tudo muda por volta de 1115. Naquele tempo os homens casados não podiam ser professores pois se dizia que o casamento retirava tempo ao estudo e à reflexão. Abelardo, com 35 anos ,continuava solteiro mas conhecera uma jovem de 15 anos , Heloísa, sobrinha de Fulbert o poderoso cónego de Paris . Como as mulheres não podiam frequentar as escolas e a jovem tinha rara inteligência, Abelardo prontificou-se a dar-lhe aulas particulares em casa do tio , onde foi convidado a hospedar-se. Desta aproximação veio um louco amor que viria a ser fatal. Quando Heloísa apareceu grávida de Abelardo ,o tio Fulbert ficou fulo pois tinha consentido nas aulas mas estando a pupila acompanhada de uma criada. Heloísa foge para casa da irmã de Abelardo, em Le Pallet, onde dá à luz um filho a que deram o nome de Astrolábio. Para não prejudicar a carreira académica de Abelardo, e Heloísa deixar de ser mãe solteira, o tio Fulbert faz-lhes um casamento secreto em Notre Dame. Fulbert que aceitara este estratagema , desconfiou contudo de uma posterior proposta de Abelardo para que Heloísa se refugiasse num convento, pensando que seria esta ideia uma maneira de Abelardo repudiar a sobrinha. Resolve então vingar-se pagando a sicários para castrar Abelardo, o que veio a acontecer. Pelas leis da época um castrado já não podia dar aulas e , por tal motivo, Abelardo deixa o ensino na universidade de Paris e refugia-se na escola-mosteiro de St.Denis , acabando por aí morrer em 1121.Durante muitos anos o casal viu-se algumas vezes mas sem se falar. Cada um em seu convento , trocavam cartas amorosas das quais transcrevemos duas , as mais conhecidas:
Abelardo para Heloísa Fujo para longe de ti , evitando-te como a um inimigo, mas incessantemente te procuro em meu pensamento. Trago tua imagem em minha memória e assim me traio e contradigo,eu te odeio, eu te amo. De Heloisa para Abelardo : É certo que quanto maior é a causa da dor , maior se faz a necessidade de para ela encontrar consolo, e este ninguém me pode dar, além de ti . Tu és a causa da minha pena e só tu me podes proporcionar conforto. Só tu tens o poder de me entristecer,de me fazer feliz ou trazer consolo. Quando Abelardo faleceu Heloísa, então superiora do convento de Argentauil, mandou erigir um mausoléu de estilo gótico para o marido, deixando ordens escritas de que quando ela falecesse fosse enterrada junto dele . È desse monumento que apresentamos as fotos seguintes:

No aspecto filosófico destacamos de Abelardo o seguinte : reformulou o conceitualismo, posição intermédia entre o idealismo e o materialismo. O idealismo nega a realidade individual das coisas distintas do "eu " e só delas admite a ideia , enquanto o materialismo reduz tudo , incluindo a alma, à unidade da matéria . O Conceitualismo defende que o universal existe nas próprias coisas e que, separado delas, não é uma realidade em si própria como queriam os realistas , nem uma simples palavra como queriam os nominalistas , mas um conceito do espírito. As obras de Abelardo abrangiam três áreas:lógica, teologia e ética . No seu primeiro e mais famoso livro SIC ET NON já demontrava uma personalidade polémica pois as questões filosóficas e teológicas nele contidas levaram a diversos pontos de vista entre os académicos. O seu escrito mais polémico intitulava-se Dialéctica , mas teve outros como : Glosas literais, Lógica nostrorum, Logica ingredientibus , Theologia summi boni , além de uma autobiografia Historia calamitatum ou História das minhas desventuras onde conta os amores e as desgraças do seu casamento com Heloísa. Nas cartas que escreve á sua amada surge o Abelardo professor e o Abelardo homem, carregado de dúvidas e de paixões, estimulado por um desejo de busca que põe a razão ( a dialética ) como instrumento chave da formação humana.Esta história de amor de Heloísa e Abelardo foi recriada, séculos mais tarde, com "Romeu e Julieta" para já não falar de Pedro e Inês no nosso país, cujo amor é recordado em Coimbra na velha Quinta das Lágrimas e na moderníssima e bela ponte pedonal sobre o Mondego.

1.9.09

DIVAGANDO

Sentado num banco de jardim, ao cair da tarde de um dia soalheiro de Agosto, escutava, mas sem prestar atenção, o meu antigo companheiro da escola que recordava coisas de há muitos anos . A certa altura o meu espírito reteve esta frase: "....actualmente esta malta nova é muito ignorante; não sabe nada de nada e só fala de futebol e telenovelas ..." Deixei de ouvir o velho companheiro e o meu pensamento voou para os tempos do liceu e para algumas das coisas que por lá aprendera. Recordei Euclides que , 3.000 anos antes de Cristo , elaborara os princípios gerais da geometria plana que se mantiveram inalterados até ao século XIX. Esfumou-se o Euclides e revi Pitágoras, o autor do célebre teorema do triângulo rectângulo que ninguém refuta . Olhei o sol que se punha por detrás das altas serras circundantes e de novo o meu pensamento foi cair no passado longínquo, em Aristarco que, muitos séculos antes de Copérnico, afirmara ser a Terra que girava em torno do Sol. Voltei a cair na realidade quando escutei o meu colega a dizer :...."este eczema até parece bruxedo, pois ora aparece ora desaparece ." Pois pois , bruxedo! respondi eu, pensando em Hipócrates que com o seu saber fez os Gregos deixarem de culpar os deuses pelas suas dores. Quando o meu pensamento já voava para Arquimedes, o tal que dizia que se lhe dessem um ponto de apoio levantava o mundo, o mesmo que calculara o valor de Pi e as bases do cálculo integral, oiço o meu colega a resmungar: ..." não estás a escutar nada do que eu digo. Estás na lua como os filósofos !" Na lua como os filósofos ? - pergunto eu agastado - Achas que o nosso professor de filosofia, o Martins de Carvalho, era lunático ? Pelo contrário, sempre nos ensinou a sermos racionalistas. -Está bem, desculpa-se o meu amigo, eu estava apenas a filosofar.
O meu ego interroga-se : a filosofar....o que é que ele quer dizer com isto ? Filosofar é uma operação que ajuda a elucidar as interpretações da realidade ; será que ele queria dizer estar numa de filosofice ? ; estará ele a ser filosofante ou filomático? Filógino eu sei que ele é e que também estudou filogenia. De repente dei-me conta que o meu amigo tinha razão : a malta nova não sabe nada ! Se eu disser a um jovem universitário que ele não precisa de ser filosofante (no sentido pejorativo) nem filomático, para ser filógino , será que ele entende as pequenas nuances das palavras que contêm conceitos tão diversos ? Penso que não, e se forem os nossos governantes a serem inquiridos , irão pedir a um assessor jurídico para verificar se há matéria para me incriminar.

5.11.08

TAUÍSMO

Neste início do século XXI e nesta nossa civilização ocidental, cada vez mais pessoas se sentem insatisfeitas com o seu conceito de vida.Procurando algo que as inspire na realização do seu ego,começam a estudar o pensamento oriental antigo, especialmente o tauísmo, pois este vai ao encontro dos anseios do homem moderno. Tentemos então entrar nesta filosofia de vida ; enquanto o Cristianismo distingue a matéria do espírito , o corpo da alma, o mundo de Deus , para o Tauísmo é tudo a mesma coisa. Esta filosofia de vida baseia-se num tau (caminho) e está difundida na China rural, embora não reconhecida pelo governo. Um tau pode ser representado ,metafòricamente, pelos opostos yin e yang, as situações contraditórias que se nos deparam neste mundo. O yin é a escuridão, a terra, o feminino e o yang a claridade ,o céu , o masculino, mas em que cada um contém o germe do outro ,num tau uno, incompreensível para o comum mortal ocidental. A filosofia tauísta baseia-se na ideia de que tudo é parte de um sistema integral em permanente mudança. O Universo, a Terra e os seres humanos encontram-se num processo dinâmico de transformação. ; o que acontece na Terra reflecte-se no Universo e vice-versa. Deste ponto de vista, só quem não tem ambições, quem está livre da vontade e do desejo, quem se entrega ao fluxo natural do yih e do yang, pode perceber o mundo oculto do tau.. Isto não significa que o tauista viva sem vontade própria,num estado letárgico. Ele deve procurar levar uma vida simples e tranquila em harmonia com o Universo. Não deve ocupar o primeiro plano ; fazer as coisas pelas coisas e não por vaidade pessoal para dar nas vistas. Os seus actos devem ser suaves e solidários, nunca intrometidos, manipuladores e perturbadores. Recordemos que só quem está livre das limitações do amor , do ódio , da inveja e sem ambições pode penetrar no mundo secreto do tau. Vejamos, por exemplo, o tau do amor e da sexualidade. O ser humano nasce abençoado com o ching (força sexual) ,o chi (força vital), o te (força emocional)e o shen (força espiritual). A força vital e a sexual podem ser cultivadas, fortalecendo a espiritual e a emocional. No âmbito do yin e do yang, cada membro do casal entrega ao seu companheiro a parte que existe em si em embrião, possibilitando a união da energia masculina e feminina , o que é mais um passo na direcção do verdadeiro eu. As linhas mestras do tauismo estão nos poemas de Lao-Tsé (século III antes de Cristo) e que muitos duvidam ter existido, mas até esta dúvida está de acordo com a filosofia tauísta pois o que conta não é a pessoa ,mas o tau. Para terminar este apontamento, apresentamos duas máximas tauístas que se aplicam perfeitamente a nós, ocidentais: De onde venho? Para onde vou? Cada um tem de encontrar a resposta em si mesmo .


Morte e vida. A morte é o regresso á origem; è o resultado da vida que sem ela não pode existir.


19.8.08

FILOSOFANDO


Há dias ,sentado diante do computador, pensava num novo tema que interessasse aos meus leitores do NOVAS quando me surgiu na cabeça aquela frase de Descartes :" penso, logo existo ". Mas por que surgiu aquela frase no meu consciente e como se formou?- continua a ser um enigma.É que os pensamentos sejam eles geniais, delirantes, tristes ou alegres,jorram constantemente sem sabermos a sua origem. Eu sei que os filósofos empiristas afirmam que os pensamentos nascem das nossas sensações e que outros, já no sec XIX, afirmavam que eles resultavam das sensações que se combinariam com ideias simples,originando ideias abstratas mais complexas que seriam a base dos pensamentos.Neste momento comecei a sorrir ao lembrar-me de Mill quando dizia :" Vejo um cavalo :é uma sensação. Penso no dono do cavalo : é uma ideia. A ideia do proprietário faz-me pensar que o seu cargo é ministro do Estado: é outra ideia. A ideia de ministro faz-me pensar em cargos públicos e eis-me envolvido numa série de ideias políticas.." Assim estou eu enredado numa série de pensamentos sem saber como eles surgem. Como é que eu saio disto ? Eles ensinaram-me que as ideias são fruto de uma mistura aleatória de sensações externas e de processos cognitivos internos. No cérebro as ideias saltitariam de forma inconsciente até que alguns destes elementos de pensamento se combinariam como peças do Lego, para produzir uma nova ideia. Mas em que consiste este jogo do Lego cerebral ? Estou como no princípio : mistério!.Também sei que é o cortex pré-frontal que funciona como chefe de orquestra, pois lá convergem as sensações de visão e da audição e também zonas ligadas á memória .Esta ligação privilegiada assegura as funções cognitiva de alto nível, tais como planificação e criatividade. E eu continuo sem criar nada para os meus leitores. Sabemos que pensamos mas não sabemos como pensamos. Isto é mais um enigma da ciência ou a prova da nossa ignorância. Agora surgiu o Sócrates: Só sei que nada sei ". Isto assim não vai lá. A minha área é a ciência pura dos números , das leis físicas e químicas, dos quantas e de outras coisas que tais, mas como o tema está na memória do computador,vou publicar. A propósito, a memória do computador é como a nossa? Isto dava outro artigo ! Não, não me meto nessa aventura. Até breve com um tema da minha área de saber e continuem a visitar o wwwnovas.blogspot.com

20.6.08

INTELIGÊNCIA ANIMAL

Durante muitos anos os seres humanos tiveram a ilusão de que eram a única espécie inteligente do planeta , o que se verifica não ser verdade. Será que os animais possuem uma mente ? Serão eles capazes de ter sentimentos e pensamentos ? Alguns dos comportamentos dos animais parecem indicar a existência de uma espécie de mente inferior, dizendo melhor, parecem ter um certo entendimento. É claro que ninguém aceita a ideia de que as formas mais simples de vida, como amibas ou moscas, sejam capazes de pensar, fazer planeamento a longo prazo ou raciocínios abstratos, as bases fundamentais de uma mente, mas ninguém duvida de que as diferentes espécies de macacos tenham atitudes que parecem ser pensamento e cultura. Julgamos oportuno distinguir agora, inteligência de instinto. Inteligência é a capacidade de escolher algo entre outras coisas, a capacidade de discernir, de resolver problemas. Como diz W.Stern : " inteligência é a capacidade de se adaptar a situações novas mediante o consciente emprego de meios ideativos ".Ou na definição de Wiliam James :" inteligência diz respeito á adaptação a novas condições ambientais pela variação da conduta ". O instinto é uma tendência natural, uma força de origem biológica. É um padrão herdado, de reacções a certos tipos de situações por parte de determinadas espécies. Rege as acções de seres vivos, independentemente da sua vontade. Já Renato Sabbatini argumenta que a inteligência não é propriedade única dos seres humanos e que se ela é composta de váriadas funções neurais correlacionadas e cooperantes entre si,e muitas delas estão presentes em outros primatas (gorilas ,orangotangos e chimpanzés), tais como destreza manual, reconhecimento e uso de símbolos complexos, memória a longo prazo, etc. A inteligência humana manifesta-se através da linguagem, para conseguir transmitir informações e conhecimentos, seja essa linguagem,verbal,escrita ou corporal Os animais embora possuam um tipo de linguagem diferente da dos humanos, podem comunicar entre si e connosco, usando uma linguagem oral de latidos, miados,choramingos ,etc , e com uma linguagem corporal de abanar o rabo,rolar no chão,encolher-se, roçar o corpo no nosso, lamber, etc, exprimindo o que sentem, podendo-se assim afirmar que têm inteligência. Uma descoberta recente mostrou que golfinhos chamam uns pelos outros por nomes próprios. e que são capazes de reconhecer o seu reflexo num espelho. Existem vários relatos de golfinhos que enfrentaram tubarões para salvar seres humanos e que os botos( espécie de cetácio) aparecem para ajudar vítimas de naufrágios no rio Amazonas. O neurologista americano John Lilly ensinou a um casal de golfinhos 30 palavras em inglês,combinando verbos, pronomes e substantivos. Uma vez o cientista disse ao macho: "Joe, fundo piscina, disco plástico,trazer caixa boiando." O golfinho desceu, escolheu um de dois discos plásticos e colocou-o na caixa que boiava. Descobriu ainda que possuem uma ética e um sentimento de grupo avançados. Quando um golfinho é ferido. todo grupo retarda a velocidade e alimenta o ferido até este estar sarado. Carl Sagan descobriu que as baleias sabem contar os meses do ano da mesma forma que nós. Em Janeiro, em meio de uma das suas canções, emitem um silvo característico ; em Fevereiro são dois silvos, em Março três e por aí fora até 12 em Dezembro, tornando a um silvo no Janeiro seguinte. O estudo da evolução da inteligência humana forneceu evidências de que parece haver um massa crítica de neurónios por ordem a conseguir consciência, linguagem e cognição e que estas propriedades da mente estararão já presentes, embora de forma mais reduzida, em outras espécies animais. Se os seres humanos sabem que outros humanos têm mentes iguais ás suas, porque podem compartilhar as experiências entre si, através da linguagem oral ,escrita e gestual, não é menos verdade que se consegue ensinar a chimpanzés linguagens artificiais( até com computadores) e que estes são capazes de inventar novas palavras, construir frases abstratas e exprimir os seus sentimentos em linguagem gestual dos surdos-mudos. Sabe-se que ,na natureza , estes animais elaboram roteiros e usam estratégias complicadas para enganar competidores. São capazes de mentir, dissimular, trair e fazer operações mentais indutivas e dedutivas com base em informação externa.Os chimpanzés, tal como os golfinhos, reconhecem a sua imagem num espelho, isto é, são capazes de auto-percepção. Os antropoides fabricam ferramentas para resolver problemas de forma adaptativa, o que evidencia habilidade mental e criatividade. Até mesmo matemática e aritmética parecem não ser mais da exclusividade humana. O reconhecimento da existência ,em animais, do que definimos como pensamento e consciência, tem muitas consequências e a primeira delas é ética, pondo em dúvida a legalidade das experiências médicas nestes animais, o encarceramento compulsivo em circos e jardins zoológicos e assim por diante.
" Os animais selvagens nunca matam por divertimento. O homem é a única criatura para quem a tortura e a morte dos seus semelhantes são divertidas por si." (James Froude)

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