Passeando distraidamente o olhar pelos expositores de uma livraria deparei-me com um pequeno livro de capa ao gosto oriental cujo título era : SEXO QUANTICO. Quântico ???Será que li bem ? Estava certo, era sexo quântico! Que coisa estranha esta de misturar sexo com Física sub-atómica. Eu sei que fui educado no pensamento ocidental, marcado por uma predominância racional, em oposição ao modo de pensar oriental que tem por base o misticismo , mas falar em sexo sub-atómico era demais . Reconheço não ser de admirar que depois de ter sido editado o livro “Tao da Física”, de Fritjof Capra, tenham surgido conceitos um tanto obscuros como “cura quântica”, “consciência quântica”, e agora este “sexo quântico”, entre outros . No Tau da Física, Capra compara a dança de Shiva – deus hindu que personifica as mutações do Universo – com os movimentos das partículas sub-atómicas descritas pela mecânica quântica e até a dualidade física onda-partícula da luz ,acaba por se transformar na unidade Ying/Yang das religiões orientais. Por causa do referido livro, grande parte das filosofias e misticismos orientais, bem como a parapsicologia e a arte de curandeiro foram apresentadas e pregadas como verdades pelos seus praticantes.
Por que teria o fisico Capra escrito o tal livro ? Tudo terá acontecido num verão de 1969, quando ele estava sentado em frente ao mar, numa praia da Califórnia, observando as ondas e reflectindo sobre os vários movimentos rítmicos da natureza, tais como as ondas, as batidas do coração e o ritmo da respiração, associando-os à "estrutura" física da matéria que, como sabemos, é composta por átomos em constante vibração. A formação e o ensino de tantos anos em Física, juntamente com o ambiente da praia em que estava, acabou por fazer Capra idealizar coisas que estão fora do racionalismo de um professor de física. Recordemos palavras de Capra:
"Neste momento, subitamente, apercebi-me intensamente do ambiente que me cercava: este se afigurava em mim como se participasse, em seus vários níveis ritmicos, de uma gigantesca dança cósmica. Eu sabia, como físico, que a areia, as rochas, a água e o ar ao meu redor eram constituídos de moléculas e átomos em vibração constante (...). Tudo isso me era familiar em razão de minha pesquisa com a Física de alta energia; mas até aquele momento, porém, tudo isso me chegara apenas através de gráficos, diagramas e teorias matemáticas. Mas, sentado na praia, senti que minhas experiências anteriores subitamente adquiriam vida. Assim, eu "vi" (...) pulsações rítmicas em que partículas eram criadas e destruídas (...) Nesse momento compreendi que tudo isso se tratava daquilo que os hindus, simbolicamente, chamam de A Dança de Shiva (...)".
"Eu passara por um longo treino em Física teórica e pesquisara durante vários anos. Ao mesmo tempo, tornara-me interessado no misticismo oriental e começara a ver paralelos entre este e a Física moderna. Sentia-me particularmente atraído pelos desconcertantes aspectos do Zen que me lembravam os enigmas da Física Quântica (...)".
O resultado da apropriação ,fora do contexto , das ideias de Capra, foram livrarias recheadas de publicações místicas , jornais, revistas ,rádio e televisões dando espaço a todo tipo de charlatanismo. Tudo por causa da interpretação aligeirada da mecânica quântica. Continuando a olhar para o livro do Sexo Quântico exposto na livraria , recordei Richard Feynman, também professor e físico quântico, quando disse: “Houve uma época em que os jornais diziam que só havia doze pessoas no mundo que entendiam a teoria da relatividade. Acho que essa época nunca existiu. Pode ter havido uma época em que só uma pessoa a entendia, porque foi o primeiro a intuir a coisa e ainda não havia formulado a teoria. Mas depois que as pessoas leram o trabalho de Einstein, muitas entenderam a teoria da relatividade, de uma maneira ou de outra; certamente mais que doze. Por outro lado, acho que posso dizer sem medo de errar que ninguém entende mecânica quântica.” O que Feynman disse há 60 anos ainda vale hoje. Não entendemos a mecânica quântica pelo facto de que o mundo das partículas sub-atómicas contradizer toda a nossa intuição e concepção do mundo em que vivemos. Ao nível ultramicroscópico o universo torna-se um lugar estranho ,ilógico, onde as partículas podem estar em muitos lugares simultaneamente, atravessar barreiras sólidas, ou não se importarem com distâncias ou o espaço-tempo. Estes fenómenos só acontecem no microcosmos das partículas sub-atómicas mas , para um organismo complexo, formado por muitas partículas diferentes, de átomos e moléculas, as leis da mecânica quântica não se aplicam . A Física clássica explica com precisão tudo o que se passa no nosso mundo macoscópico e não é preciso recorrer à teoria quântica para justificar um sonho extravagante ou experiências pessoais paranormais. Como já dissemos tudo o que acontece no nosso mundo tem ou terá no futuro explicação na física clássica Entremos então um pouco nessa física, aquela que estudei na universidade, para ter uma espécie de contra ponto com os misticismos . Os meus apontamentos universitários diziam que a teoria quântica começara no início do sec XX, quando os cientistas de termodinâmica tentaram medir a energia total dentro de um forno aquecido a uma determinada temperatura. Os cálculos revelavam que esta energia era infinita, coisa impossível perante a lógica do conhecimento. Uma onda, seja ela qual for, sempre foi transporte de energia, definida por uma amplitude, frequência e comprimento. Quanto maior for a frequência, ou quanto menor for o comprimento de onda, maior será a energia envolvida. Segundo se pensava, todos os comprimentos de onda eram possíveis no interior do forno e, desse modo, a energia seria infinita , conclusão ilógica para os pesquisadores. Então, Max Plank propôs que quando se trata de energia, não são possíveis fracções linearmente variáveis da mesma, mas sim blocos mínimos de energia que são transportados, os quanta de energia que são proporcionais à frequência da onda em questão . Nas equações matemáticas que explicavam a ideia surgia a constante de Plank: = 1.05x10^-34 kg.m²/s - número muito pequeno que só se aplica em escala atómica, mas que funcionava com incrível exactidão, embora não se soubesse bem como. Também no início do sec XIX, Thomas Young já demonstrara a natureza ondulatória da luz numa experiência simples, mas que abalou os conceitos newtonianos sobre a luz como sendo unicamente coisa corpuscular. Quase trinta anos depois, era o físico Heinrich Hertz a observar que algumas substancias como o silício libertavam electrões ao serem atingidos por um feixe de luz – o hoje vulgar efeito fotoeléctrico. Em 1905, Einstein sugeriu que, se aplicássemos a noção de que a luz também só pode ser transportada em blocos ou quantas de energia poderíamos entender os mecanismos do efeito fotoeléctrico. Cada quanta de energia corresponderia a um fotão, ou seja, a uma partícula de luz Ficou por isso aceite que a luz – ou qualquer partícula portadora de energia e momento - se comporta simultaneamente como uma onda e como partícula. Acontece porém que este carácter da matéria não pode ser compreendido completamente com base nos conhecimentos que construímos a partir das nossas experiências diárias num mundo que é composto de objectos biliões e biliões de vezes maiores que um fotão.
Voltei de novo ao pensamento dos seguidores de Capra.
Um ponto da teoria quântica em que eles se apoiam é o Princípio da Incerteza de Heisenberg que diz não ser possível prever a posição e o momento de uma partícula . (Existe uma onda, descrita pela equação de Schroedinger, que define o local mais provável onde a partícula se encontra, mas qualquer procedimento que seja usado para observarmos a partícula , afectará a sua posição já que os instrumentos ópticos utilizados, de uma forma ou de outra, terão de usar energia para o tornar observável). É no princípio da incerteza que eles se agarram para rebater a Física do mundo em que vivemos. Segundo o princípio referido, é possível que alguém possa atravessar uma parede mas a hipótese disso ocorrer é infinitamente pequena, tal como a do leitor ganhar o euromilhões todas as semanas , durante dez anos. Por que afirmo isto ? Porque no princípio da incerteza, à medida em que se aumenta a escala, os efeitos são menos observáveis e prováveis. Se as leis da mecânica quântica fossem aplicáveis ao nosso mundo, fenómenos bizarros eram comuns e para nós, seria normal estar em dois lugares ao mesmo tempo, por exemplo . Se o mundo quântico não é o nosso, porquê falar de cura quântica , consciência quântica e sexo quântico e outras coisas quânticas no mundo molecular que, esse sim, é o de que somos feitos e vivemos.
Por que teria o fisico Capra escrito o tal livro ? Tudo terá acontecido num verão de 1969, quando ele estava sentado em frente ao mar, numa praia da Califórnia, observando as ondas e reflectindo sobre os vários movimentos rítmicos da natureza, tais como as ondas, as batidas do coração e o ritmo da respiração, associando-os à "estrutura" física da matéria que, como sabemos, é composta por átomos em constante vibração. A formação e o ensino de tantos anos em Física, juntamente com o ambiente da praia em que estava, acabou por fazer Capra idealizar coisas que estão fora do racionalismo de um professor de física. Recordemos palavras de Capra:
"Neste momento, subitamente, apercebi-me intensamente do ambiente que me cercava: este se afigurava em mim como se participasse, em seus vários níveis ritmicos, de uma gigantesca dança cósmica. Eu sabia, como físico, que a areia, as rochas, a água e o ar ao meu redor eram constituídos de moléculas e átomos em vibração constante (...). Tudo isso me era familiar em razão de minha pesquisa com a Física de alta energia; mas até aquele momento, porém, tudo isso me chegara apenas através de gráficos, diagramas e teorias matemáticas. Mas, sentado na praia, senti que minhas experiências anteriores subitamente adquiriam vida. Assim, eu "vi" (...) pulsações rítmicas em que partículas eram criadas e destruídas (...) Nesse momento compreendi que tudo isso se tratava daquilo que os hindus, simbolicamente, chamam de A Dança de Shiva (...)".
"Eu passara por um longo treino em Física teórica e pesquisara durante vários anos. Ao mesmo tempo, tornara-me interessado no misticismo oriental e começara a ver paralelos entre este e a Física moderna. Sentia-me particularmente atraído pelos desconcertantes aspectos do Zen que me lembravam os enigmas da Física Quântica (...)".
O resultado da apropriação ,fora do contexto , das ideias de Capra, foram livrarias recheadas de publicações místicas , jornais, revistas ,rádio e televisões dando espaço a todo tipo de charlatanismo. Tudo por causa da interpretação aligeirada da mecânica quântica. Continuando a olhar para o livro do Sexo Quântico exposto na livraria , recordei Richard Feynman, também professor e físico quântico, quando disse: “Houve uma época em que os jornais diziam que só havia doze pessoas no mundo que entendiam a teoria da relatividade. Acho que essa época nunca existiu. Pode ter havido uma época em que só uma pessoa a entendia, porque foi o primeiro a intuir a coisa e ainda não havia formulado a teoria. Mas depois que as pessoas leram o trabalho de Einstein, muitas entenderam a teoria da relatividade, de uma maneira ou de outra; certamente mais que doze. Por outro lado, acho que posso dizer sem medo de errar que ninguém entende mecânica quântica.” O que Feynman disse há 60 anos ainda vale hoje. Não entendemos a mecânica quântica pelo facto de que o mundo das partículas sub-atómicas contradizer toda a nossa intuição e concepção do mundo em que vivemos. Ao nível ultramicroscópico o universo torna-se um lugar estranho ,ilógico, onde as partículas podem estar em muitos lugares simultaneamente, atravessar barreiras sólidas, ou não se importarem com distâncias ou o espaço-tempo. Estes fenómenos só acontecem no microcosmos das partículas sub-atómicas mas , para um organismo complexo, formado por muitas partículas diferentes, de átomos e moléculas, as leis da mecânica quântica não se aplicam . A Física clássica explica com precisão tudo o que se passa no nosso mundo macoscópico e não é preciso recorrer à teoria quântica para justificar um sonho extravagante ou experiências pessoais paranormais. Como já dissemos tudo o que acontece no nosso mundo tem ou terá no futuro explicação na física clássica Entremos então um pouco nessa física, aquela que estudei na universidade, para ter uma espécie de contra ponto com os misticismos . Os meus apontamentos universitários diziam que a teoria quântica começara no início do sec XX, quando os cientistas de termodinâmica tentaram medir a energia total dentro de um forno aquecido a uma determinada temperatura. Os cálculos revelavam que esta energia era infinita, coisa impossível perante a lógica do conhecimento. Uma onda, seja ela qual for, sempre foi transporte de energia, definida por uma amplitude, frequência e comprimento. Quanto maior for a frequência, ou quanto menor for o comprimento de onda, maior será a energia envolvida. Segundo se pensava, todos os comprimentos de onda eram possíveis no interior do forno e, desse modo, a energia seria infinita , conclusão ilógica para os pesquisadores. Então, Max Plank propôs que quando se trata de energia, não são possíveis fracções linearmente variáveis da mesma, mas sim blocos mínimos de energia que são transportados, os quanta de energia que são proporcionais à frequência da onda em questão . Nas equações matemáticas que explicavam a ideia surgia a constante de Plank: = 1.05x10^-34 kg.m²/s - número muito pequeno que só se aplica em escala atómica, mas que funcionava com incrível exactidão, embora não se soubesse bem como. Também no início do sec XIX, Thomas Young já demonstrara a natureza ondulatória da luz numa experiência simples, mas que abalou os conceitos newtonianos sobre a luz como sendo unicamente coisa corpuscular. Quase trinta anos depois, era o físico Heinrich Hertz a observar que algumas substancias como o silício libertavam electrões ao serem atingidos por um feixe de luz – o hoje vulgar efeito fotoeléctrico. Em 1905, Einstein sugeriu que, se aplicássemos a noção de que a luz também só pode ser transportada em blocos ou quantas de energia poderíamos entender os mecanismos do efeito fotoeléctrico. Cada quanta de energia corresponderia a um fotão, ou seja, a uma partícula de luz Ficou por isso aceite que a luz – ou qualquer partícula portadora de energia e momento - se comporta simultaneamente como uma onda e como partícula. Acontece porém que este carácter da matéria não pode ser compreendido completamente com base nos conhecimentos que construímos a partir das nossas experiências diárias num mundo que é composto de objectos biliões e biliões de vezes maiores que um fotão.
Voltei de novo ao pensamento dos seguidores de Capra.
Um ponto da teoria quântica em que eles se apoiam é o Princípio da Incerteza de Heisenberg que diz não ser possível prever a posição e o momento de uma partícula . (Existe uma onda, descrita pela equação de Schroedinger, que define o local mais provável onde a partícula se encontra, mas qualquer procedimento que seja usado para observarmos a partícula , afectará a sua posição já que os instrumentos ópticos utilizados, de uma forma ou de outra, terão de usar energia para o tornar observável). É no princípio da incerteza que eles se agarram para rebater a Física do mundo em que vivemos. Segundo o princípio referido, é possível que alguém possa atravessar uma parede mas a hipótese disso ocorrer é infinitamente pequena, tal como a do leitor ganhar o euromilhões todas as semanas , durante dez anos. Por que afirmo isto ? Porque no princípio da incerteza, à medida em que se aumenta a escala, os efeitos são menos observáveis e prováveis. Se as leis da mecânica quântica fossem aplicáveis ao nosso mundo, fenómenos bizarros eram comuns e para nós, seria normal estar em dois lugares ao mesmo tempo, por exemplo . Se o mundo quântico não é o nosso, porquê falar de cura quântica , consciência quântica e sexo quântico e outras coisas quânticas no mundo molecular que, esse sim, é o de que somos feitos e vivemos.
Como já li algures, é triste observar que, enquanto cientistas incansáveis materializam as leis da mecânica quântica em bens e facilidades para o mundo, os desvarios de outras pessoas, sejam elas bem ou mal intencionadas , criem um mercado absurdamente lucrativo e promissor onde o termo “quântico” é usado para vender pseudo-ciências. NÃO ENTREI NA LIVRARIA e o livro “O sexo quântico” ficou na montra. .
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