18.11.10

LINHAS DE TORRES

Certamente já ouviu falar das “linhas de torres” ( correctamente deveria ser “linhas de Torres Vedras “) , relacionadas com as tropas invasoras de Napoleão Bonaparte . Estas invasões francesas ocorreram entre 1807 e 1811 porque Portugal não acatou a ordem de Napoleão de fechar os seus portos à navegação inglesa, com quem ele estava em guerra. Devido à recusa portuguesa, a França invadiu Portugal, com o apoio de dois corpos de exército espanhóis, tendo o corpo de exército francês, comandado pelo general Junot, entrado em Lisboa em 30 de Novembro 1807, obrigando a Família Real e o Governo a irem para o Brasil Os abusos, as injustiças, os roubos e os massacres perpetrados pelas forças de ocupação francesas, levaram a revoltas em Portugal nos princípios de Junho de 1808, encorajadas pelas revoltas espanholas que tinham eclodido uns dias antes. A Inglaterra ajuda-nos militarmente, travam-se batalhas que acabam com Junot a assinar um tratado de amnistia que lhe permite retirar do país.
“E se eles voltam?” era o dilema português, após Junot ser expulso em Agosto de 1808. E eles voltaram! O resultado foi a mais curta invasão napoleónica, comandada pelo general Soult em que a violência do confronto foi característica dominante. Mas invadir Portugal pelo Norte, tendo o Porto como objectivo intermédio, revelou‑se um erro, só possível de explicar pela ignorância relativamente ao temperamento dos Portugueses, o apego à sua terra e a relutância em colaborar com intrusos ostensivos além também da ignorância francesa pela orografia, pelo clima e pelos recursos alimentares e de alojamento da região nortenha.
Assim o Exército «galego» de Soult que tinha Lisboa como objectivo final, não foi sequer capaz de se aguentar no Douro. A acção dos Fronteiros de Chaves e a reconquista desta vila por Francisco da Silveira deram um contributo defensivo inestimável, parando o abastecimento do exército francês. Desta forma as forças anglo-lusas comandadas pelo general Arthur Wellesley e pelo marechal Beresford voltam a vencer e Soult retira. Mas Napoleão era teimoso !
Como diz a professora universitária Cristina Clímaco “ Face à iminência de uma 3ª invasão pelas tropas de Napoleão, Wellington elaborou em 1810 um plano de defesa de Portugal assente em 3 pontos: a edificação de uma linha de fortificações a norte da península de Lisboa - as Linhas de Torres Vedras -, a retirada da população da Beira e da Estrema­dura para a retaguarda das fortificações, e a destruição de todos os meios de subsistências e de meios de produção que pudessem permitir às tropas francesas subsistirem na região. Wellington contava para o sucesso do seu plano com o nacionalismo do povo português ao qual pediu o sacrifício de se arruinar e de arruinar o país para o salvar das garras da águia francesa.” Assim à força de braços, voluntariamente umas vezes, outras forçada , a população construiu 152 fortificações com 523 bocas de fogo, ao longo de uma centena de quilómetros , tudo no mais absoluto sigilo e em tempo “record”.
Montes de terra, árvores derrubadas, pedra, argamassa e alguma madeira eis o sistema de fortificações de campanha mais eficiente da história militar, pois era difícil prever por onde Napoleão iria invadir Portugal e era necessário proteger Lisboa e o seu excelente porto de mar. Para tal são projectadas três linhas de defesa a norte de Lisboa que reforçam os obstáculos naturais do terreno e permitem controlar os acessos. Estes trabalhos parece terem sido iniciados a 3 de Novembro de 1809, sob orientação de Arthur Wellesley, então comandante do exército anglo-luso.
A primeira linha , vulgarmente conhecida como segunda, vai de Ribamar à Povoa de Santa Iria , controla os desfiladeiros de Mafra, Montachique e Via Longa , pois se apoia na artilharia instalada nas serras de Chipre, Fanhões e Serves bem como no cabeço de Montachique, Como estas linhas têm um flanco direito de fraca resistência ao inimigo é criada uma outra linha 13 quilómetros mais a norte , a primeira , que vai desde Alhandra à foz do rio Sizandro, em Torres Vedras. Os flancos frágeis destas linhas eram reforçados por flotilhas de navios ingleses , autênticas batarias moveis de artilharia. Curioso é referir que, para além dos fortins , obras hidráulicas foram usadas na defesa pois ao serem inundadas as lezírias, desde Alverca até ao norte de Alhandra , o exército francês não podia passar. Para que tal acontecesse no tempo seco, foram construídos diques sucessivos ao longo do rio Sizandro, diques estes protegidos pela artilharia colocada na margem esquerda. Tudo isto construído no maior secretismo.
Quando as tropas francesas do general Massena chegam às linhas, em 11 de Outubro de 1810, deparam-se com estas fortificações de campanha , bem guarnecidas de artilharia. o exército aliado situado numa posição impenetrável e um terreno despovoado e não cultivado.
As linhas de Torres Vedras não são fortificações contínuas , pelo contrário, são posições separadas umas das outras, mas ligadas na retaguarda por estradas militares ; só os seus pontos importantes são fortificados .A maioria são. como dissemos, pequenos postos de artilharia de defesas precárias em madeira e terra. (ver foto do início do texto) A ideia é não acontecer uma grande batalha onde os franceses ganhariam por serem tropa altamente treinada, mas sim flagelar constantemente e em diversos pontos o inimigo, desgastando-o e desmoralizando-o dado estar a actuar numa zona de terra queimada desde Coimbra até Torres Vedras. A partir de Almeida (distrito da Guarda) onde começa a 3ª invasão francesa , Massena encontra um país silencioso . Um ofício de 23 de Setembro de 1810 dirigido ao Estado maior Francês diz o seguinte : “ Atravessamos um deserto, nem uma alma se encontra, tudo foi abandonado. Os ingleses levam a sua barbárie até ao fuzilamento do pobre que permanecesse em sua casa, mulheres , crianças e idosos ,todos fogem, não se encontra um guia em nenhum lado.” A população é obrigada a esconder ou destruir os produtos das colheitas que não consegue transportar consigo, a deixar as suas casas e a refugiar-se no interior das linhas. Tudo para privar o inimigo de recursos, obrigando-o a morrer de fome , já que os franceses tinham por norma abastecer-se localmente. A 4 de Março de 1811 os franceses retiram e começa assim o declínio do império de Napoleão.
Como curiosidade referimos : Participaram na obra mais de 150.000 camponeses que foram recrutados ao longo de um ano. O êxodo maciço da população forçado a viver a sul das linhas foi de cerca de 200.000 pessoas . As equipas trabalhavam em grupos de 1.000 a 1.500 homens , coordenados por um oficial engenheiro inglês e 150 capatazes. As várias fortificações foram ocupadas por 25.000 milícias e 11.000 ordenanças portuguesas, 8.000 espanhóis e 2500 fuzileiros navais ingleses. Como tropas regulares estavam 34.000 britânicos e 24.500 soldados portugueses. É incrível como isto não transpirou para o inimigo. O exército anglo-luso instalou-se nas linhas entre 9 e 11 de Outubro de 1810. No dia 11 todas as tropas encontravam-se ao abrigo deste sistema defensivo. As tropas de milícias e também de ordenanças guarneceram as diferentes obras de defesa e aí receberam treino de manobras defensivas. As tropas do exército anglo-luso foram utilizadas como uma força móvel e não como guarnição às posições defensivas. Desta forma, estariam sempre disponíveis para se movimentarem para qualquer ponto das linhas onde a ameaça francesa viesse a colocar em perigo a integridade da defesa. Tendo em consideração os eixos segundo os quais um eventual ataque por parte dos franceses seria mais provável e mais perigoso, Wellington dispôs o seu exército, com excepção da 3ª Divisão (Picton), em dois blocos: um em frente ao Sobral, entre Monte Agraço e Runa; o outro, na região de Alhandra. O quartel-general de Wellington ficou colocado na Quinta do Barão de Manique e o de Beresford no Casal Cochim, em Pêro Negro
Para que as linhas de defesa funcionassem na perfeição o exército aliado tinha de poder acorrer rapidamente a qualquer posição que estivesse a ser atacada pelos franceses. Para tal eram necessárias estradas militares mas também comunicações muito rápidas de instruções e ordens de batalha . Desta forma foi montado na serra do Socorro ( Mafra) um telégrafo de sinais (bandeiras e balões coloridos) que permitia transmitir para oito fortes onde também havia mastros de sinais . Assim as fortificações das linhas de Torres e os seus flancos ,comunicavam entre si, mas também com os navios ingleses fundeados no Tejo e na costa . As mensagens eram em código previamente estabelecido e muito simples, pois bastava transmitir um número que correspondia a uma determinada situação. A foto que se segue mostra a reconstituição de um desses postos telegráficos .

1 comentário:

Anónimo disse...

ATENÇAO QUE A ZARA ANDA A TIRAR DINHEIRO DOS CARTÕES DE CREDITO!!

http://www.youtube.com/watch?v=8khqcoWVdtQ&feature=player_embedded

Não se deixem roubar!!Quando falta dinheiro em caixa usam os numeros dos multibancos para repor o dinheiro em falta!!

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