5.8.10

TEMPLÀRIOS ....verdades ou mitos


Quando criei a etiqueta Enigmas da Antiguidade previ que alguns dos meus leitores seriam seguidores do conteúdo dos textos mas que outros os achariam um disparate pegado. No entanto, o que ontem era verdade , hoje já não o é, com o oposto também a aplicar-se e isto em qualquer campo do conhecimento humano. Sem querer de forma alguma comparar-me a Galileu que no século XVIII foi condenado só porque defendeu que a Terra girava em torno do Sol, o que ia contra as ideias da Igreja Católica, por que hei-de eu escamotear a opinião de alguns estudiosos sobre os TEMPLÁRIOS, mesmo que isso fira a susceptibilidade de algum meu habitual leitor? O futuro decidirá sobre quem tem razão. Vamos então ao tema:

Muito se tem escrito sobre os Templários e os seus presumíveis mistérios , em virtude de, no século XVIII, correrem muitas lendas sobre esta Ordem militar . Tanto os seus detractores como os seus defensores publicaram centenas de livros e escritos com os respectivos argumentos. Durante o romantismo afirmava-se que “os bons cavaleiros eram vítimas de um poder tirânico” . Esta e outras teses foram cultivadas pelos movimentos esotéricos e ocultistas que haviam surgido para preencher o vazio deixado pelo progressivo desaparecimento da influência da religião católica da vida pública . A eles se juntava a ascensão de movimentos maçónicos, sociedades fechadas com misteriosos rituais .
O final abrupto da Ordem do Templo , fruto da inegável inveja e da intriga do rei Filipe IV de França e de confissões arrancadas sob tortura, e ainda a condenação à morte na fogueira do seu último Grão Mestre, considerado herege e bruxo, foram um magnífico ponto de partida para fazer voar a pena dos escritores. Vejamos alguns factos :
OS TEMPLÁRIOS FORAM SACRÍLEGOS . A principal acusação que recaiu sobre a ordem foi de sacrilégio, o que constituiu motivo suficiente para que fossem presos e processados . A denúncia consistia em que, para se entrar na Ordem , os noviços eram obrigados a cuspir na cruz e a renegar Cristo . Documentos , há pouco desclassificados de secretos , revelam o seguinte : o Papa Clemente V teria chamado o Grão Mestre Jacques de Molay e outros dirigentes para lhes pedir explicações sobre o assunto; estes reconheceram ter sido usual tal prática, com a finalidade de só admitir na Ordem os mais abnegados, sacrificados e obedientes . Tendo os noviços jurado obediência cega aos seus superiores, era dada essa ordem como ” prova de fogo “. Se por um lado havia a obediência cega, por outro não podiam renegar a Fé. Muitos negavam-se a cumprir tal ordem apesar de ameaçados com punhais e adagas e outros cuspiam de forma a não acertar no crucifixo ; outros ainda, não sabendo o que fazer, fugiam . Estas reacções dos noviços eram analisadas pelos mestres para decidir se seriam aceites como cavaleiros . Devemos aqui dizer que idêntico pedido os esperaria se caíssem nas mãos dos sarracenos , sendo a recusa punida com a decapitação. O mais curioso é que esta prova existiu durante mais de cem anos sem que qualquer Papa se incomodasse com tal, até que Clemente V , por razões que adiante veremos, resolveu mandar investigar.
OS TEMPLARIOS PARATICAVAM SODOMIA . Esta imputação vem ligada à anterior .O noviço depois de superada a prova de obediência era recebido com um beijo na boca , típico da fraternidade monástica que o acolhia e comum em outras ordens religiosas. Parece que este beijo seria seguido de outro no umbigo e nas nádegas como prova de total obediência. É possível que algum dos preceptores exagerasse neste terceiro beijo e ordenasse ser dado no pénis. Estes excessos não deveriam ser aceites pelos postulantes, sendo então exortados à castidade mas dizendo-lhes que se esta castidade fosse uma grande renúncia , então deveriam aceitar apenas relações homossexuais com os seus irmãos. Uma vez mais os noviços se deviam mostrar avessos a tal , embora permanecendo em silêncio como sinal de respeito. Nas exaustivas averiguações que se empreenderam quando se dissolveu a Ordem e que abarcaram umas mil audições , apenas seis cavaleiros declararam ter tido relações homossexuais , o que é uma percentagem ínfima e idêntica á encontrada em outras ordens religiosas que nunca foram perseguidas por tal motivo.
HEREGES E IDÓLATRAS . O secretismo da Ordem facilitava suspeitas de todo o tipo, como a de adorarem secretamente um ídolo com a forma de uma cabeça barbuda que levavam sempre com eles. Dizia-se que o facto era devido á convivência com os muçulmanos e essa cabeça pintada seria Maomé. Sabe-se que os Templários traziam consigo as imagens das cabeças de Santa Úrsula e de Santa Eufémia, mas a de um barbudo nunca foi comprovado. Há quem admita que , a ter esta acusação validade, seria a pintura do sudário que os cavaleiros adorariam por reafirmar a morte e ressurreição de Cristo, numa atitude para combater a ideologia dos cátaros que negavam a divindade de Cristo.
ERAM MAUS COMBATENTES . Embora documentos muçulmanos afirmem serem os Templários combatentes ferozes e disciplinados que preferiam a morte a retirar do campo de batalha , a verdade é que os cavaleiros foram acusados da perda da Terra Santa . Pese embora algumas falhas de vulto no plano militar, a perda da Terra Santa deveu-se mais ao clima de rivalidades entre os mestres templários do que a serem maus combatentes .As intrigas entre os mestres minaram a resistência dos cruzados, como é o caso do mestre Gerard de Ridefort que, incompreensível e suspeitosamente, salvara a vida nas duas ocasiões em que Saladino o capturara. A verdade é que quando em 1291 caiu o último reduto cristão (S. João de Acre) foram os Templários os seus defensores e não outros cruzados.
OS TEMPLÁRIOS ERAM CORRUPTOS . Outra das acusações feita contra a Ordem era a de possuírem uma enorme fortuna, superior à dos reis, fruto do saque de guerra , roubo e usura. Chegaram mesmo a acusá-los de ter rotas navais secretas para a América ( Colombo seria um Templário) de onde traziam carregamentos de ouro e prata. A verdade é que em meados do século XIV, já com a Ordem Templária extinta, os marinheiros europeus não se aventuravam a descer a costa atlântica de África , quanto mais atravessar o oceano para ir á América do Sul. A sua imensa fortuna devia-se a doações particulares da Igreja e de Reis , tanto em moeda como em edifícios, povos e feudos. Isto permitia, juntamente com as isenções fiscais que gozavam, amealhar imensa fortuna que era acrescida com a venda de relíquias trazidas da Terra Santa , uma das mercadorias mais lucrativas da época. Os Templários afirmavam que as lascas de madeira que vendiam não eram fragmentos da cruz de Cristo, mas que tendo estado em contacto com fragmentos verdadeiros, guardados em Jerusalém , tinham adquirido propriedades milagrosas. Se a Ordem em si era rica , chegando a financiar vários estados , os seus membros apenas tinham direito aos bens de família e a uma pequena verba de 4 dinários . A que se deve então a acusação de corruptos ? Em finais do século XIII, com S. João de Acre já perdido, os Templários atribuíram ao Papa Bonifácio VIII um elevado subsídio para o aliviar de apuros económicos . Ao saber disto, o rei de França , Filipe IV; exigiu ao tesoureiro da Ordem no país, 300.000 florins em ouro para aguentar as loucas despesas da sua corte. Como esta quantia nunca mais era amortizada pela corte de Filipe IV, começaram as intrigas para que os bens da ordem passassem para a coroa francesa e a dívida do papado anulada mas, para isso, o Papa Clemente V tinha de extinguir a Ordem.
O Papa estava num dilema : ou salvava os Templários mas a Igreja de França afastava-se de Roma , ou acabava com a Ordem e não haveria um cisma religioso . Clemente V atrasou imenso a sua decisão mas quando o rei Filipe IV mandou executar na fogueira , em 1308, o bispo de Troyes sob a acusação de bruxaria , o Papa começou a ceder . Acusou a Ordem de indignidade e maus hábitos embora a absolvesse de praticar heresia. Como a pressão do rei continuava muito forte, o Papa acabou por extinguir os Templários em 1312, sendo executado o seu Grão Mestre por ordem real. Depois disto começaram as lendas ! (ver ainda nesta etiqueta Enigmas, “Os Templários e os seus segredos”)


Apresento abaixo uma relação bibliográfica para quem deseje aprofundar o assunto das Cruzadas e dos Cavaleiros Templários:
- História das cruzadas – S. Runciman, Imago, 3 volumes, 2002 – 2003
- Templários: Os cavaleiros de Deus – Edward Burman, Círculo do Livro, 1997
- História dos cavaleiros templários: e os pretendentes de sua sucessão seguida da história das ordens de Cristo e Montesa – Élize de Montagnac, Madras, 2005
- Locais sagrados dos cavaleiros templários – John K. Young, Madras, 2005
- No tempo dos cavaleiros da Távola redonda – Michel Pastoreau, Círculo do Livro, 1989
- Templários em Portugal: a verdadeira história – Pedro Silva, Ícone, 2005
- Os cavaleiros de Cristo: templários, teutónicos, hospitalários e outras ordens militares na idade média – Alain Demurger, Jorge Zahar, 2002
- As viagens do descobrimento – Eduardo Bueno, Objetiva, 1998
- The Templars and the Assassins: The Militia of Heaven – James Wasserman, Destiny Books, 1st edition, 2001.
- História das Cruzadas - Joseph-François Michaud, Editora das Américas, 7 volumes, Tradução Pe. Vicente Pedroso,1956.
- Secret Societies of the Middle Ages – The Assassins, the Templars and the Secret Tribunals of Westphalia – Thomas Keightley, Weiser Books, 1st edition, 2005.
- Portugal Templário – A presença templária em Portugal – José Manuel Capêlo, Editora Zéfiro, 1ª Edição, 2008.

Sem comentários:

Arquivo do blogue