5.6.12

FARNEL PARA ROMARIA



Com a devida vénia e agradecendo desde já ao meu amigo senhor Carlos Ferreira, autor do blogue Garatujando, a autorização hà muito concedida, transcrevemos este apontamento Poveiro

 Antigamente os pescadores poveiros faziam as suas romagens  a santuários situados aqui na zona norte do país, mas ainda assim distantes algumas dezenas de quilómetros.

 Iam pagar promessas feitas em momentos de aflição, e aproveitavam o dia de veneração do orago,  o que implicava haver ali festa de romaria.

 Lugares de muita devoção da nossa gente eram  Senhora da Abadia, São Bento, São Torcato, Senhora do Alívio e Santa Eufémia.

 No caso de São Bento eram quatro as romarias a fazer: S.Bento da Porta Aberta, S.Bento de Vairão,  S.Bento das Peras e S.Bento da Várzea..

 Os romeiros iam a pé até Nine, dali tomavam o comboio até Braga, de onde seguiam de novo a pé até à região do  Gerês, onde se situam os Santuários.

Isto durava dois ou três dias. Para lá, levavam a promessa e o farnel; no regresso traziam laranjas,

 O farnel era constituído por rosca (regueifa), muito apreciada pela nossa gente, garrafão de vinho (verde tinto, de preferência carrascão), bolos de bacalhau, azeitonas, cambitos de raia (há que diga e escreva “gambitos”), arroz de caçoila e frango assado.

 E se bolos de bacalhau e raia frita são por demais conhecidos, talvez convenha determo-nos um pouco no arroz de caçoila.

 Era cozinhado numa caçoila de barro,  Fazia-se um estrugido com cebola, azeite, salsa e loureiro. Depois quando a  cebola partida às rodelas ficava lourinha, juntava-se-lhes rodelas de chouriço de carne, deixava-se refogar um pouco, e metia-se o arroz cuja quantidade variava conforme o tamanho da caçoila,  e deixa-se cozer mas não completamente;  acabava por secar pelo caminho, pois a caçoila era embrulhada num jornal, a que sobrepunha um guardanapo grande. As pontas do guardanapo eram atadas em cruz, duas a duas, por cima do testo. Quem levava a caçoila à cabeça, levava-a em cima de uma rodilha de papel de jornal.

 Nas romarias havia fruta, os doces de romarias -comuns em todo o norte -, as bichinhas, os corações, os cestinhos  e bonecos feitos de pão de trigo (que faziam as delícias das crianças, e, ainda, os inevitáveis tremoços com azeitonas pretas.

 Por vezes, como no caso de Santo André, aqui no litoral do concelho poveiro, os romeiros optavam por ir aos tascos da localidade comer rojões ou bacalhau frito ou, ainda, ir a casa de lavradores de sua amizade, já que, celebrando-se o Santo André no mês de Novembro, o tempo frio propiciava a matança do porco, o que era motivo para o tradicional sarrabulho … e daí os rojões, acepipe de que os visitantes beneficiavam.

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