1.4.12

B A R C A S

Ao ver esta velha foto do rio Mondego em Coimbra ( possivelmente de 1950) e de uma cena que eu tantas vezes observei , .decidi escrever algo sobre os barcos fluviais de transporte . Ne foto vê-se uma barca serrana de vela desfraldada e outras duas carregadas de cavacas de madeira de pinheiro para os fogões das cozinhas citadinas, assim como um carro de bois que ali devia estar para transportar alguma daquela madeira ou outra mercadoria. Lembro-me de na minha juventude ir para aquele local ver o movimento dos diversos cais fluviais. A ponte que se avista é a antiga ponte de ferro, que foi substituída pela actual ponte de betão, inaugurada em 1954, e que foi construída a 20 metros a montante desta.. Á saída da ponte ainda se pode ver um pequeno posto de venda de gasolina pois aquela via era a estrada Porto- Lisboa e o número de carros que por ela circulava seria de uma meia dúzia por hora..
Voltemos aos barcos e ao rioMondego; No tempo da ocupação romana os navios vindos do mar ainda chegariam a Coimbra, mas o progressivo assoreamento do rio foi reduzindo a navegação para montante exigindo barcos de menor porte: e fundo chato, as barcas serranas. Estas embarcações ficaram para sempre ligadas ao rio Mondego e ainda navegaram durante quase toda a segunda metade do século XX, fazendo o transporte de mercadorias do interior para a cidade e em sentido contrário usando a vela e também a força do barqueiro e da sua vara . As lavadeiras do rio. ali na zona da foz do Ceira, utilizavam estas barcas para levar a roupa que tinham recolhido nas freguesas de Coimbra e também para a trazer de volta já lavada e passada
Havia também outras barcas, um pouco mais pequenas , chamadas as barcas do sal, navegando perto da foz que levavam o sal das salina.s até às fábricas de conservas .. Muitos eram os portos importantes ao longo do Rio Mondego, para carregarem e descarregarem mercadoria dos quais destacamos o Porto da Raiva, como sendo o mais importante, e considerado um dos maiores do país, até meados do séc. XIX porto este que, diz a tradição, que a povoação da Raiva, estaca então situada na foz do Rio Alva., um dos afluentes do Mondego Aqui chegadas, as mercadorias eram descarregadas, e depois eram levadas em carros de bois para zonas do interior tais como os concelhos de Penacova, Arganil, Tábua, Mortágua, Santa Comba Dão e Oliveira do Hospital.
O progresso tudo mata e este primitivo meio de transporte acabou por desaparecer tal como aconteceu em outros rios por todo o lado..
As barcas que ainda resistem neste século XXI e mesmo assim apenas como cartaz turístico, são as do rio Douro.



O barco rabelo é uma embarcação portuguesa, típica deste rio que tradicionalmente transportava as pipas de Vinho do Alto Douro, onde as vinhas se localizam, até Vila Nova de Gaia - Porto, onde o vinho era armazenado e, posteriormente, comercializado. Sendo um barco de rio de montanha, o rabelo não tem quilha e é de fundo chato, com um comprimento entre os 19 e 23 metros e 4,5 metros de boca. Com uma vela quadrada, o rabelo era manejado normalmente por seis ou sete homens. Para governo, utiliza um remo longo à popa – a espadela. Quando necessário, os barcos eram puxados a partir das margens por homens ou por juntas de bois. Como atrás afirmámos o progresso mata tudo.Com a conclusão, em 1887, da linha de caminho-de-ferro do Douro e o desenvolvimento das comunicações rodoviárias durante o século XX, o tráfego fluvial assegurado pelos barcos rabelos entrou em declínio. Os barcos rabelos podem ainda hoje ser encontrados no Porto. Contudo são hoje, ao contrário de outros tempos, usados para o transporte de turistas com carácter lúdico e recreativo, sendo muito usados para atravessar o rio desde o Porto até Vila Nova de Gaia, local onde os turistas podem visitar algumas caves de vinho do Porto.
Também me vieram à memória as barcas do rio Minho que serviram no passado as populações raianas poia a navegação fluvial foi um meio de passar o rio, de margem para margem, e também sistema de comunicação secundário que complementava os caminhos terrestres, Muito numerosas no passado recente, as barcas transportavam desde lenha, erva , tojos e até uvas nos dias da vindima e logo vinho, gado e feirantes, sal e tecidos, também areia, madeira, pedras e lousas desde as pedreiras até ao local das construções.
Desde a nascente do rio Minho até à foz que as barcas serviram para passar de margem a margem sendo Santalha de Sisoi um dos primeiros lugares em que se empregava a barca para passar a corrente fluvial sem cobrar pelo serviço aos que precisavam passar, embora noutros locais o serviço fosse pago. As barcas tinham tamanho variável consoante fossem para o serviço particular do proprietário ou de serviço público.
Eram de tamanho considerável as barcas destinadas a tirar areia do rio, trabalho muito comum ainda no século XX. Com capacidade de transporte de um a dois metros cúbicos, eram uma embarcação de quatro metros de cumprimento por mais de dois de amplitude, pelo que precisavam da força de dois barqueiros com rema ou vara.. . Também aqui o progresso com as pontes e estradas fizeram desaparecer este meio de transporte.

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