13.8.11

DINOSSAUROS Como se sabe a morfologia externa

Uma das leitoras do NOVAS deixou um comentário num artigo meu sobre dinossauros , em que afirmava “ haver muita imaginação no aspecto externo que os paleontólogos dão aos dinossauros.
É difícil para mim que não sou paleontólogo , falar de todas as técnicas usadas por esses cientistas para recriarem, com grande margem de veracidade, não só um esqueleto completo do animal a partir de alguns ossos, bem como, a partir desse esqueleto total, o aspecto exterior provável.
Posso no entanto afirmar que disciplinas como fisiologia, histologia ecologia engenharia mecânica, aerodinânica e a já muito velha anatomia comparada são apoio para o paleontólogo. Não podemos esquecer que está mais que provado que as aves evoluiram dos dinossauros voadores e aqui a anatomia comparada com aves actuais é uma grande ajuda.
Mas há mais ;Imaginar dinossauros em carne e osso não é algo difícil para os paleontólogos quando se fala de animais pré-históricos que habitaram a Terra há 65 milhões de anos. Uma nova ferramenta com tecnologia em 3D pode ajudar a solucionar o problema de remontagem dos esqueletos de grandes animais pré-históricas, imaginando até mesmo se eles seriam gordos ou magros. As informações que se seguem são do site científico Live Science.
Por meio de um equipamento de imagem a laser chamado Lidar, os pesquisadores da Universidade de Manchester, na Inglaterra, criaram pela primeira vez modelos computadorizados em três dimensões de cinco espécies de dinossauros - incluindo duas do Tyrannosaurus rex, uma da Acrocanthosaurus atokensis, outra do ancestral do avestruz Strutiomimum sedens, uma do herbívoro Edmontosaurus annectens e outra do hadrossauro.
De acordo com os cientistas, a técnica permite que qualquer pessoa veja e imagine como os dinossauros teriam sido em vida, levando em conta a gordura ou a magreza dos exemplares. "Você pode ver o esqueleto com uma barriga", disse Karl Bates, um dos responáveis pelo projeto de biomecânica da universidade.
Os pesquisadores utilizaram o mecanismo para fazer estimativas de peso e conceber a possível condição física dos animais na época. Cálculos de baixo peso, segundo a equipa, seriam os mais prováveis para os dinossauros porque a obesidade diminui a velocidade de caça, aumentando a necessidade de energia sobre o sistema respiratório.
Os dinossauros provavelmente tinham 30% de sua massa nas pernas traseiras. Estudos anteriores mostraram que gigantes, como o T-Rex, precisariam de muito mais músculos nos membros traseiros para se locomoverem com rapidez. A espécie Strutiomimum sedens pesava entre 400 e 600 kg e é considerada parente distante do actual avestruz. Para avaliar o esqueleto deste antigo animal, os pesquisadores fizeram análises de imagens a laser de um avestruz. Reconstruir dinossauros com estes detalhes permitirá avaliar as mudanças na massa corporal das espécies durante a evolução..
É verdade que nem tudo são facilidades e todos sabem da dificuldade de se estudar animais extintos, particularmente aqueles que não deixaram descendentes, isto é, não há hoje animais vivos que deles descenderam sem evolução , salvo casos raros ,como o peixe celacanto.
Muitas das principais perguntas sobre dinossauros, pterossauros (répteis voadores) e ictiossauros (répteis marinhos) –estão relacionadas com aspectos de sua vida. Como cresciam e viviam? Eram velozes ou lentos? Os pais cuidavam dos filhotes ou estes eram independentes e pouco tempo depois do seu nascimento já andavam pelo ambiente em busca de alimento?
Na maioria das vezes estas questões relacionadas aos aspectos da vida dos animais não têm resposta quando o que o cientista tem em suas mãos é um punhado de ossos! Isto porque se a pesquisa desse tipo de material já é difícil pelo facto de ele ser incompleto e desprovido de indícios sobre a morfologia externa da espécie , imagine falar-se em aspectos do seu comportamento!
Vejamos como a histologia pode ajudar Por se tratar de ossos os pesquisadores resolveram aplicar uma metodologia não muito usual, num esforço para entender um pouco mais sobre esses vertebrados extintos.
Tal como se faz em Geologia para estudar a estrutura microscópica das rochas, a confecção de lâminas muito delgadas do osso para estudos histológico (paleohistológicos) procuram entender a anatomia microscópica dos tecidos biológicos fossilizados,
Os ossos são os elementos de sustentação de um vertebrado. São compostos por um tecido conjuntivo que foi endurecido pela deposição de cálcio e fosfato, que formam a componente mineral dos ossos, chamada hidroxiapatite. Existe nos ossos também matéria orgânica formada por fibras, sobretudo de colagénio, além de vasos sanguíneos.
Nos fósseis, há a perda da matéria orgânica, restando apenas a parte rígida do esqueleto. Muitas vezes, os poros dos ossos fossilizados são impregnados por outros elementos, como o ferro, devido a um processo chamado de permineralização, que torna o material ainda mais duro.
Um factor importante a ter em conta é que os ossos de um ser vivo estão em constante remodelação. Sem entrar em pormenores que são do âmbito biológico e que iriam sobrecarregar este texto, podemos dizer que após a formação do tecido ósseo vemos nele duas diferentes áreas: o osso compacto e a zona do osso esponjoso. A parte mais externa do osso é formada pelo periósteo (compacto) e a mais interna, por trabéculas( esponjoso) que envolvem a cavidade medular.
As relações entre essas duas diferentes regiões do osso, como também as suas características histológicas, dependem de vários factores, incluindo o metabolismo e as condições de alimentação do animal, o que nos leva a prever se eram animais de sangue frio ou quente, a dentição, o tipo de maxilar , forma da boca ,etc.
A maior parte das pesquisas paleohistológicas é focada nos dinossauros. Alguns poucos estudos também têm sido realizados em pterossauros e em outros animais.
Com base em estudos paleohistológicos, cientistas puderam determinar que, em alguns dinossauros carnívoros e em pterossauros de grande porte, a região externa dos ossos é bastante vascularizada, o que sugere um crescimento rápido na fase jovem e acentuada diminuição desse processo na fase adulta. Trata-se de animais com um metabolismo endotérmico, isto é, podiam controlar a temperatura do seu corpo. Este padrão é tipicamente encontrado nas aves actuais que normalmente têm seu crescimento descrito como limitado – chegam rapidamente ao tamanho adulto e depois praticamente deixam de crescer. E assim entra também, agora e aqui, a anatomia comparada que nos pode dar a ideia de como seria o aspecto exterior do animal pré histórico , fazendo uma regressão evolutiva a partir de uma ave actual.
Por outro lado, pode-se verificar que, em outras espécies de dinossauros, os ossos são pouco vascularizados e existem linhas, dispostas de maneira mais cíclica, que sugerem interrupção no crescimento.
Esse tipo de característica histológica foi encontrada em saurópodes (grupo de dinossauros herbívoros que reúne algumas das maiores criaturas que já caminharam sobre a Terra e é comum nos répteis ditos tradicionais, aos quais se atribui um crescimento contínuo, como é o caso dos jacarés.
Esses animais têm metabolismo exotérmico, o que significa que eram mais dependentes do meio ambiente no que diz respeito ao controle da temperatura do seu corpo.
Desta forma e como já referimos, a pouco e pouco, vai-se tendo uma ideia de como seria o animal . Mas continuemos ::
Alguns dinossauros, como os prossaurópodes, possuem padrão histológico mais complexo: semelhante aos das aves na fase jovem e mais parecido com o dos répteis tradicionais na fase adulta . Não vamos entrar por este caminho desenvolvendo o assunto por ser demasiado complexo.
Voltando á anatomia comparada que vai assemelhando os dinossauros a aves e répteis da actualidade, duas perguntas se colocam: 1ª Como se explica a diferença de tamanho dos animais actuais em relação com os grandes dinossauros da pré- história ?
2º- Por que os mamíferos , por outro lado, sempre mantiveram um tamanho discreto?
A resposta parece basear-se na diferente constituição dos seus corpos e na bioquímica. Os mamíferos são endotérmicos e não se adaptam bem a climas quentes pois têm dificuldade em libertar o calor que desenvolvem por metabolismo, calor este que é tanto maior quanto maior for o seu corpo. Isto mostra por que os mamíferos do tempo dos dinossauros eram de pequeno porte, mais ou menos o tamanho de um rato.. Os grandes mamíferos só apareceram no final do Cenozóico quando o clima arrefeceu. Em contrapartida os dinossauros viveram em clima quente e, sem necessidade de ter um metabolismo intenso, o seu corpo não teve dificuldades em seguir a tendência natural para o gigantismo pois o clima era propício aos seres exotérmicos e a vegetação também gigante e abundante.
A evolução actuou também no tipo de coração que tinha de estar adaptado a transportar sangue a corpos gigantescos e desta forma se passa de corações de três câmaras ( 2 aurículas e 1 ventrículo) para outros de 4 câmaras o que viria a ser ideal na adaptação das aves a eras geológicas menos quentes.
Como tentei explicar a paleontologia agrega a si outras áreas de conhecimento muito diversas daí que tenhamos de acreditar no que nos afirmam e desenham os especialistas.,havendo mesmo especialistas para cada espécie de dinossauros.
Com este pequeno apontamento , forçosamente muito incompleto por não ser um” expert” na matéria, espero ter ajudado a minha leitora a ver que há muito de investigação científica e um mínimo de imaginação quando se recria o aspecto externo de um dinossauro.
E como aditamento aqui vai outro exemplo de como o estudo dos dinossauros é bastante complexo
A Science publicou recentemente um artigo onde Lars Schmitz e Ryosuke Motani, ambos da Universidade da Califórnia (Estados Unidos), conseguiram estabelecer uma metodologia para separar dinossauros diurnos e nocturnos. Para isso, os pesquisadores mediram a relação do tamanho da órbita com o diâmetro do seu anel esclerótico (conjunto de ossos vulgarmente encontrados protegendo o globo ocular nos répteis). Os resultados mostram que muitos dinossauros carnívoros eram nocturnos enquanto os herbívoros podiam transitar tanto durante o dia quanto na parte da noite. Os pterossauros, também englobados no estudo, eram diurnos.

1 comentário:

Maria Paz disse...

Fiquei muito mais conhecedora do assunto. Obrigada.

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