1.9.10

RADIODIFUSÃO COMO ARMA DE GUERRA (2ª PARTE)

Em 6/5/2009, publiquei , na etiqueta de cultura geral um artigo intitulado A RADIODIFUSÃO COMO ARMA DE GUERRA. Vou tentar complementar esse artigo socorrendo-me de várias opiniões que ,com a devida vénia, adaptei. Nesta adaptação tive o cuidado de não alterar as ideias-chave dos respectivos autores.
Diz Carlos Azevedo jornalista e professor da Universidade de Paraíba que…a primeira vítima de uma guerra é a verdade. Em época de conflitos bélicos mundiais, tal afirmação aplica-se muito bem a qualquer meio de comunicação social. A guerra empreendida pelos Estados Unidos contra o Afeganistão, baseada na luta contra o terrorismo, volta a mostar como os meios de comunicação tentam influenciar a opinião pública mundial.
Também no livro Estratégias de Comunicação (Lisboa, 1990), o professor Adriano Duarte Rodrigues da Faculdade de Ciências da Comunicação, da Universidade Nova de Lisboa, nos diz que a comunicação é peça fundamental para as guerras, não sendo de admirar que a fotografia, o cinema, o megafone, a telefonia e a televisão tenham sido logo associados, desde os primeiros tempos, ao campo militar. Em alguns casos, os instrumentos de comunicação são inventados primeiro com fins militares e só depois são explorados comercialmente pelos civis. Mesmo no caso do cinema, que surgiu inicialmente como arte civil, no começo do Século 20 como um divertimento sem maiores pretensões, após o seu desenvolvimento industrial, passou a instrumento de propaganda ideológica, quer para o imperialismo norte-americano quer para o regime nacional-socialista de Adolf Hitler que com os seus discursos racistas e inflamados incitava à união da raça “superior” para dominar o mundo.
A própria internet foi, inicialmente, fruto da engenharia militar. Nascida nos Estados Unidos em 1969, o seu nome original era ARPA (Advanced Research Projects Agency), um produto da guerra fria entre Estados Unidos e União Soviética e a sua função era articular os centros de defesa em caso de um ataque soviético. A segunda fase da tecnologia de comunicação digital foi universitária, quando ela foi popularizada nos Centros de Ensino Superior. Com o desenvolvimento da interface gráfica da WWW (World Wide Web), a internet foi simplificada com o uso de ícones que facilitaram a utilização por um público leigo. Hoje ela está na terceira fase, a comercial
A televisão foi um meio que influenciou muito a população civil norte-americana durante a guerra do Vietname , na década de 60. A exibição dos combates e da crueldade dos próprios militares americanos para com os vietnamitas mudou radicalmente a relação que a opinião pública americana tinha com aquele conflito. Protestos internos foram responsáveis pela retirada dos militares da guerra do Vietname. Aprendida essa lição, agora os norte-americanos antes de começar qualquer conflito bélico promovem uma clara censura aos meios de comunicação, principalmente à TV. Isso ocorreu na Guerra do Golfo(1990-91) contra o Iraque. As imagens dos bombardeios eram nocturnas, reduzidas à apenas clarões numa tela esverdeada. Além disso, o discurso da rede mundial da CNN dizia que com a precisão cirúrgica das bombas guiadas por computadores e sinais de rádio, as baixas civis eram reduzidas. Tratava-se de uma guerra “limpa” segundo a ideologia difundida pelos americanos. No entanto, a realidade foi bem diferente.”.
. Harold Lasswel (1902-1978), escreveu, em 1927, Técnica de propaganda na guerra Mundial, . Promovendo uma sábia dosagem de desinformação, informação e censura, os americanos criaram o conceito de guerra psicológica, no qual o inimigo (comunistas, terroristas, nacionalistas) são alvo de uma propaganda política difamatória. As agressões não se dirigem agora apenas ao corpo mas também à alma, ao espírito, ao ego dos adversários. É nesse contexto que o governo dos EUA criam, em 1933, a chamada rádio Voz da América, para difundir ideologias, quebrando fronteiras. A União Soviética e a China também souberam utilizar muito bem a guerra psicológica, através de campanhas contra o imperialismo dos EUA e estimulando os países colonizados a aderirem ao socialismo, reforçando o bloco oriental. Assim se instala no mundo a técnica da difusão de ideologias diversas através dos meios de comunicação rádio, numa tentativa de convencimento. Com o fim da guerra fria e a dissolução da utopia do socialismo internacionalista, o mundo aparentemente encontrava-se em relativa paz. Engano, puro engano. O pensador Armand Mattelart atesta: a ausência desde o fim da guerra fria, dum adversário global claramente “identificável” para os Estados Unidos ,criou a ideia nos americanos que o inimigo não era mais um país, um estado-nação . O inimigo agora é invisível, e move-se em redes subterrâneas que ligam máfias, radicalismos religiosos e interesses econômicos. É o que Mattelart chama de “novas frentes mundiais de desordem” forças que se movem no “imundus” e desafiam o “mundus”. Uma luta entre a ordem capitalista e suas próprias entranhas, estranhas entranhas.
Ao bombardearem o Afeganistão, os Estados Unidos querem acalmar a opinião pública interna, com frases de efeito, dizendo “calma, já temos o controlo da situação, já identificamos o inimigo”. A guerra, seria preferível chamar de massacre, contra o Afeganistão tem os mesmos princípios consagrados pelos teóricos da propaganda de guerra. Como o que foi feito na Guerra do Golfo (90-91), primeiro o campo de batalha é cercado e a imprensa afastada do local. Nada de imagens iniciais sobre o massacre. No máximo, assépticas imagens geradas por cameras nocturnas de alta tecnologia mostrando os mísseis teleguiados por computador e rádio, atingindo alvos cirurgicamente escolhidos Fechado o cenário de combates e promovida a censura aos meios de comunicação é hora de se manipular a opinião pública em tempos de guerra. São encomendadas pesquisas apoiando a iniciativa de guerra contra o inimigo agora palpável, o Afeganistão, país pobre, sem a menor condição de resistência ao poderio tecno-militar global dos EUA. A repetição das imagens do avião chocando contra as torres gémeas do WTC é exaustiva, talvez a cena mais vista do planeta. O mercado mundial de imagens é manipulado para se costurar a necessidade de guerra, expondo a necessidade de se ter um crescendo global contra o terrorismo, onde apenas existe um culpado que deve ser caçado, o milionário Osama bin Laden. Retoma-se também as polaridades entre oriente e ocidente, islamismo e cristianismo, fé e razão entre outras. A guerra psicológica também chega á frente de batalha: milhares de rádios são distribuídos, lançados pelos aviões para que a população possa ouvir as mensagens transmitidas pelo inimigo. Panfletos conclamando a rendição, redigidos na língua dos habitantes do Afeganistão são atirados do céu, bem como bombas e alimentos.
Segundo Sarmento Santos alguns pesquisadores e estudiosos do assunto ressaltam que na Rússia do início do século XX, a visão de Vladimir Lenine era a de que a rádio tinha o potencial para não apenas alcançar a audiência doméstica , mas também para atingir vastas possibilidades internacionais e valor "revolucionário". Lenine alertou o seu sucessor Joseph Stalin para ampliar a pesquisa sobre a rádio quando escreveu : "Eu penso que sob o ponto de vista da propaganda e agitação, especialmente para aqueles que são iletrados, é absolutamente necessário para nós levar este plano adiante". Os Russos foram os primeiros a estabelecer um sistema de rádio difusão internacional patrocinado pelo governo, de forma continua e extensiva, o qual se revelou um sistema de longo alcance e, por isso, desenvolvido como um meio de obter significativos ganhos políticos e económicos.
Alguns historiadores apontam o ano de 1927 como o marco do nascimento da propaganda pela rádio. A Grã Bretanha seguiu os passos da Rússia e da Alemanha, quando também descobriu o uso das ondas de rádio como "o perfeito meio de comunicação com suas colónias e possessões nos hemisférios ocidentais e orientais do mundo.
Nos anos que se seguiram, a Holanda e a França também iniciaram transmissões regulares para suas colónias
As transmissões de rádio difusão internacional transformaram-se em armas de efeito considerável em influenciar as mentes dos ouvintes.
Quando Adolf Hitler se tornou Chanceler do Governo Nacional Socialista da Alemanha, ele abraçou o uso da rádio difusão como o instrumento chefe de propaganda política e reorganizou a estrutura de emissões até então domésticas para incluir emissões internacionais. Nos fins de 1935, a Alemanha havia transmitido programas regulares para a Ásia, África, América do Sul e América do Norte, em alemão, inglês, espanhol, português e holandês.

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