27.4.10

VILLA ROMANA (Rio Maior)


Que Portugal teve larga ocupação romana é um facto conhecido ; que os melhores , maiores e bem estudados vestígios desse nosso passado romano se encontram em Conímbriga, também é do senso comum embora, nas últimas décadas, tenham aparecido estações arqueológicas romanas noutros locais do país como é o caso da Villa romana de Rio Maior.
Foram as referências existentes num livro de Francisco Pereira de Sousa sobre a história da cidade de Rio Maior que despoletou tudo. Nesse livro relatava que , no séc. XIX, um agricultor ao lavrar o seu campo, puxara para fora da terra dois fustes de coluna em mármore, um deles com cerca de 4 metros de comprido, e ainda fragmentos de mosaico romano. Em 1983, os Serviços de Arqueologia da Câmara procederam a uma prospecção de campo na zona citada no livro, para confirmar a possibilidade de uma estação arqueológica que merecesse ser estudada.
A partir de 1991, começa a surgir na zona estudada uma pressão urbanística aliada à necessidade de expansão do cemitério da cidade e, por tal motivo, os Serviços de arqueologia da Câmara Municipal procederam a novas sondagens arqueológicas nos anos de 1992 e 1993,de modo a avaliar a extensão e grau de conservação dos vestígios romanos escondidos no subsolo. Com estes trabalhos de sondagem ficaram a descoberto uma grande quantidade de mosaicos e várias outras peças arqueológicas, indicadores bastante seguros de que se estava perante uma Vila Romana muito importante.
Só em 1995, no entanto, se reuniram condições para o início das escavações em toda a área, sob a coordenação do Dr. José Beleza Moreira .
A vila (villa) era uma herdade, com campos cultivados, pastagens, mata, etc. e uma parte edificada que servia de apoio e de residência. Esta residência compunha-se da habitação do proprietário, dos alojamentos para os criados e ainda da adega e lagares, celeiro, estábulos , palheiro, bem como outras áreas telhadas . A produção desta quinta era certamente vendida para as cidades romanas vizinhas, como Eburobritium ( Óbidos), Collipo ( Leiria) e Scallabis (Santarém)
O poder económico e elevado estatuto social do proprietário desta vila reflecte-se no requinte e luxo da decoração da habitação, em especial no tratamento do próprio soalho. A presença de grande número de salas pavimentadas com mosaico , associado à estatuária e outros produtos de luxo, é disso uma evidência segura.
A vila fora construída junto ao rio Maior e dominaria todo o vale e terrenos férteis onde hoje está a cidade de Rio Maior. Deverá datar do século I e a inexistência de paredes nesta jazida arqueológica deve-se ao facto de, pelo menos desde o séc. XII, o local ter servido de fornecedor de materiais de construção (pedra, cantarias, etc. ) retiradas das paredes que se encontravam à superfície do solo.
Segundo o site disponibilizado pela Câmara Municipal de Rio Maior, que transcrevemos com a devida vénia, até ao momento o espólio recolhido no decurso das escavações é essencialmente composto por peças indicadoras do grande luxo e riqueza dos proprietários desta Villa. São inúmeros os fragmentos de placas em calcário comum e cristalino, de mármore dos mais variados tipos e cores, usados na ornamentação dos rodapés e outras partes arquitectónicas do imóvel. Alguns destas peças são frisos profusamente decorados com gravações a baixo-relevo. As colunas (bases, fustes e capiteis) também eram feitas com estes tipos de rocha.
Outro elemento constante em todas as salas e corredores postos a descoberto pelas escavações, são os fragmentos de estuque pintado que fariam parte da decoração parietal da Villa.
O chão de todas as dependências e áreas de circulação, até ao momento descobertas, são pavimentados com mosaico. Este é de estilo geométrico associado a alguns motivos vegetalistas e fitomórficos estilizados, com uma extraordinária gama cromática.
Existe, também, um grande número de tesselas de pasta de vidro com uma rica e vasta gama de cores, que deveriam ter sido usadas em composições ornamentais de paredes ou nichos.
Temos ainda vários objectos de luxo, como contas de vidro pertencentes a colares ou brincos (?), fragmentos de terra sigillata, (cerâmica importada que constituía o serviço “chique” da época), na sua maioria de produção norte-africana, fragmentos de vários objectos de vidro (copos, taças, jarros, unguentários, etc.), duas patas de felino, aladas, em bronze, que fariam parte da base de um objecto ainda não determinado (mesa, baú, suporte?), uma asa de um jarro de bronze e algumas moedas.
Outro elemento indicativo do elevado poder económico deste patrício romano observa-se na presença de várias peças de estatuária. Até ao momento foram descobertos fragmentos de, pelo menos, cinco estátuas, uma delas de escala natural, e ainda uma peça quase intacta (faltam muito poucos fragmentos), a Ninfa fontanária de Rio Maior.
Também foram encontrados fragmentos de objectos comuns, como fundos de ânforas, fragmentos de grandes potes de armazenamento , pesos de tear, cerâmica de uso comum (tachos, panelas, vasos, etc.).
Aconselhamos uma visita a esta estação arqueológica, tendo o cuidado de, com antecedência, contactar a Câmara Municipal para a sua viabilidade.

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