Olhando para o que se passa actualmente nas nossas escolas com os professores, desmotivados e sem autoridade, a serem agredidos física e verbalmente por alunos e encarregados de educação, recordo tempos em que , por essas aldeias e vilas, o professor era pessoa tão respeitada como o vigário ou o médico. Veio-me também à memória uma cena cómica escrita por Herondas , no século III antes de Cristo, em que uma mãe grega desabafa sobre o filho pelas suas travessuras e desinteresse nos estudos :"....as tabuinhas que todos os meses me afadigo a cobrir de cera estão para ali atiradas entre a cama e a parede.... nunca escreve nada nelas! ....nem sequer conhece a letra alfa , a não ser que lha repitam cinco vezes." A mãe que levara o filho à escola e ali tivera o desabafo, ouve o mestre exclamar : "Onde está o coiro duro, o meu rabo de boi com que açoito os vadios ? Tragam-mo antes que rebente de cólera !" O rapaz suplica: ..."Não, por favor, mestre Lamprisco, pelas Musas e vida da tua esposa , não me batas com o duro, escolhe um mais macio para o fazer". Esta comédia motivou-me a contar como era o ensino na Grécia antiga. Os rapazes, a partir dos seis ou sete anos de idade, começavam uma instrução não somente profissional, mas também cultural, por forma a fazer deles cidadãos perfeitos que saberiam literatura e retórica, ciência e filosofia, a par de educação física e artística. Os pais colocavam as crianças sob os cuidados de um escravo ,o paidagogos ( pedagogo),O ensino primário era chamado paideia, palavra derivada de paidós que significa criança. A missão do pedagogo era acompanhar a criança à escola , ajudá-la a memorizar as lições e a ensinar-lhe moral e bom comportamento. As raparigas eram educadas em casa.(A excepção era em Esparta) As escolas, todas privadas , tinham à sua frente o grammatistes que ensinava as primeiras letras , ocupando-se das crianças até aos doze anos .Era uma profissão pouco valorizada que não requeria qualificação especial, com um salário modesto, um pouco superior ao de um operário qualificado. O professor sentava-se num lugar elevado, frente aos alunos e pedagogos ; os alunos escreviam nas suas pranchas de madeira cobertas de cera com um estilete que tinha uma ponta afiada e outra romba. Esta última servia para apagar os erros. A prancheta era apoiada nos joelhos como se pode ver numa pintura da época.O professor podia usar outros materiais para o ensino da escrita, como placas de barro cozido ou ardósia, mas quase nunca o papiro por ser muito caro.A leitura era muito difícil dada a inexistência de espaços entre as palavras ou de sinais de pontuação. Os alunos liam em voz alta e decoravam textos poéticos , obras de Homero, máximas dos Sete Sábios , poemas de Hesíodo e preceitos de Quíron. Nesta primeira fase a matemática limitava-se ao cálculo, por vezes com a ajuda de um ábaco. Aprendiam a tocar lira ou flauta para acompanhar o recitar dos poemas. Neste pedaço de vaso grego vê-se , da esquerda para a direita, o aluno (em pé)a aprender a tocar flauta, depois a aprender a escrever. A figura à direita é o pedagogo; penduradas na parede uma flauta e uma lira. Tal como hoje ,a ida à escola era uma obrigação pouco grata para os jovens, pois se deslocavam para ela muito cedo, no inverno ainda de noite, com o pedagogo a iluminar o caminho com uma candeia. De tarde havia nova sessão de estudo, isto todos os sete dias da semana , excluindo os raros dias festivos .A metodologia era quase inexistente sem atender à idade e mal aprendiam a conhecer as letras já eram obrigados a decorar textos. O ensino secundário, dos 14 aos 18 anos, desfrutava de maior consideração, com o professor (gramanatikos)a ensinar literatura de Antifonte, Demóstenes, Eurípedes,etc. Aprendiam também matemática , geometria, aritmética . música e astronomia . Estes professores eram muito considerados e solicitados por todas as cidades. Além das disciplinas atrás citadas era dada pelo paidotribos a educação física que incluía a luta ,a corrida, o salto e o lançamento do disco e do dardo. Isto tudo correspondia ao ideal de uma educação integral ou universal, aquilo a que os gregos chamavam enkyklios paideia . Finalmente, aos 18 anos ,o adolescente atingia a idade de efebos e começava a formação de cidadão grego .Esta consistia numa espécie de serviço militar que durava dois anos, a efebia, durante a qual os efebos viviam em comunidade e aprendiam o manejo de armas e estratégia para defesa da sua cidade.Também assistiam às palestras e conferências de sofistas, leitores , oradores e professores. Aos vinte e um anos atingiam a idade adulta.Em Esparta as raparigas praticavam ginástica e, mais tarde, no período helenístico, em cidades como Quios e Teos, podiam assistir às palestras e aprendiam a ler e a escrever.
2 comentários:
Meu caro Professor, como sempre, mais uma das suas belas crónicas !
Parabéns por ela.
Seu amigo
Mário
bela bosta
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