7.10.09

CIDADES MEDIEVAIS

Se tivéssemos a possibilidade de assistir ao nascimento e crescimento de uma cidade medieval veríamos o seguinte: um grupo de pessoas que se fixa num local e cria um pequeno casario para, pouco depois ,instalar uma pequena igreja na zona central. À medida que a população cresce, o número de casas aumenta, e em torno do núcleo original começam a instalar-se mercadores e artesãos que se agrupam de acordo com a sua religião, proveniência ou profissão ( ferreiros ,carniceiros, curtidores, oleiros,arneiros, alfaiates,etc) Junto a estes bairros surge o largo do mercado e, a partir do século XIII, os conventos e suas igrejas. Se uma igreja se transforma em catedral, temos uma cidade e o incremento rápido de outras construções como sejam: a casa do bispo, a residência de religiosos, o hospital, as escolas,os fontanários . o pelourinho e a forca ,e um espaço aberto para celebrações. Na época medieval cidades e vilas não se distinguiam pelo tamanho,apenas pela existência de catedral. As cidades tinham catedral e eram, por isso, sede de bispado. Cada bispo administrava uma província sentado numa cadeira ou cátedra e a igreja onde estava essa cadeira denominava-se catedral. Era uma organização territorial que vinha dos tempos da ocupação romana. No século IV, quando surgem as invasões bárbaras , as pessoas deixam os grandes aglomerados populacionais e instalam-se em pequenos núcleos campesinos. No entanto as sedes de bispado mantiveram-se habitadas e rodearam-se de fortes muralhas para resistir aos ataques inimigos.À medida que o tempo passava o reduzido espaço dentro das muralhas levava a que as casas se aproximassem umas das outras , as ruas se estreitassem e as pedras dos edifícios antigos fossem usadas na elevação das muralhas. A estrutura romana de ruas largas e cruzando-se em ângulo recto dera origem, por falta de espaço, á estrutura medieval que tentaremos descrever a seguir. A cidade medieval cheirava a fumo de lenha, a carne e peixe. a pão e guisados, a vinho, a dejectos, tintas e curtumes, a serradura e ervas aromáticas. As ruas, de terra e lama, tinham as casas tão próximas com os andares superiores mais largos que, em alguns locais , mal entrava o sol. A maior parte do ruído provinha da zona do mercado com os gritos dos comerciantes , a conversa das pessoas , o alvoroço de patos e galinhas e o mugir do gado. Este tipo de cidade manteve-se nos séculos XI e XII crescendo sempre em torno da catedral românica.



A partir do século seguinte tomam peso na sociedade os artesãos e os comerciantes , formando-se novos agregados populacionais fora das muralhas e com eles a construção de novas catedrais. Estas agora crescem em altura e enchem-se de luz e cor através de grandes janelas e espectaculares vitrais . Estas catedrais góticas continuam a ser o centro da cidade e a competir com os palácios e edifícios públicos.


Já que estamos a falar de catedrais góticas , algumas demorando três séculos a construir, elas nem sempre foram lugares de paz e silêncio. Durante o dia eram animadas por gentes que ali pernoitavam, pelos que a atravessavam para encurtar o caminho, ou pelos que dentro das suas paredes comerciavam de tudo .As paredes laterais estavam ocupadas por capelas que eram espaços privados e fechados, de gente rica que ali queria ser sepultada.Também nas naves laterais se instalavam escolas . O que ficava exclusivamente para o culto era o altar e o coro ,com o espaço que os unia, cor respondendo ao cruzeiro, fechado por paredes . Nos espaços abertos das naves podia-se circular livremente , normalmente não cumprindo as normas que o cabido tentava impor. Numa dessas normas que chegaram até aos nossos dias , constava a proibição de realizar representações teatrais cómicas ou contendo frases de duplo sentido, canções lascivas ,etc, pois a casa de Deus fora feita para orar e não para escarnecer. Ricos e pobres ,autoridades locais , nobres e reis , participavam na construção das catedrais , uns com mão de obra ,outros com dádivas. Quase sempre os mecenas desejavam ser recordados e ,por isso, faziam-se representar nos vitrais, nos afrescos , nos relevos e , como já referimos, nas capelas funerárias com estátuas jacentes. Algumas cidades medievais chegaram aos nossos dias quase intactas e são hoje lugares turísticos com vida própria.

1 comentário:

Anónimo disse...

Belo, e muito bem descrito, como de costume.
Parabéns mais uma vez e um abraço do
Mário de Portugal

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