29.5.09

CARTAGO E OS SACRIFÍCIOS HUMANOS

Durante muito tempo , Cartago não se livrou da fama de possuir uma enorme estátua de bronze ,com uma fogueira dentro ,para onde eram atiradas crianças de tenra idade,num ritual de sacrifício ao deus Moloch ,como afirmava o grego Diodore que viveu cem anos antes de Cristo. Em 1921, foi descoberta uma necrópole com milhares de estelas suportando urnas em terracota contendo restos calcinados de crianças muito jovens , por vezes acompanhados por restos de animais , fazendo assim crer que o grego Diodore falara verdade. A arqueologia aceitou esta interpretação simplista e o mito continuou mas, após alguns decénios de investigação, a ideia foi posta em causa. Desta feita , o termo "molk" que se encontra na maioria das inscrições das estelas não designa um deus mas um ritual que poderá significar , quando associado á palavra baal, oferenda ou sacrifício de substituição. Por outro lado, nem na Sicília, Sardenha ,Espanha ou próximo oriente, foi encontrada qualquer estátua do tipo citado no início, mesmo nos locais tidos como sagrados pelos cartagineses. Hélène Bénichou-Safar que estudou longamente este assunto, verificou que nas outras necrópoles cartaginesas não havia sepulturas de crianças. Por quê então a concentração de sepulturas de crianças num único local ? Os peritos de medicina legal não conseguiram mostrar se as crianças foram queimadas vivas ou se eram cadáveres. Verificou-se ainda que os ossos contidos nas urnas de terracota , por vezes, pertenciam a mais de uma criança, fazendo assim cair por terra a ideia de que a figura dessas Estelas representava a criança sacrificada. Ficou comprovado que todos os corpos foram cremados na mesma posição o que anula a ideia de crianças atiradas de qualquer maneira para a fornalha do deus . Para complicar mais o problema há Estelas sem urnas funerárias e urnas sem Estela . A leitura dos epitáfios leva a supor que o ritual que presidia á incineração era privado e não uma atitude de expiação pública. Por tudo isto por que não admitir que eram nado-mortos ou crianças de tenra idade que não vingavam devido a infecções ,subnutrição, acidentes e outras causas vulgares na época e enterradas num local próprio ou específico ? Não esqueçamos que, entre nós, foi hábito haver nos cemitérios talhões reservados a crianças . A cremação talvez se devesse á ideia de assim poder levar até á divindade um ser ainda puro que tinha falecido. Este é mais um enigma da antiguidade em que somos levados a pensar ter contornos menos macabros que os inicialmente apresentados.

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