A cidade de Roma, no ano 64 DC , era imponente e tinha começado a ser reconstruída, alguns anos antes, pelo imperador Augusto. Como dizem os historiadores, tinha recebido de Júlio César uma Roma de adobe ,para a transformar numa cidade de mármore, com o levantar de templos, teatros, aquedutos e termas ,bem como abrindo praças e mercados. Augusto criara também um enorme corpo de bombeiros como resposta a um dos grandes pesadelos da cidade , os incêndios. Cidade nascida sem planificação, o seu crescimento foi caótico, século após século, com bairros desordenados, fétidos, ruidosos ,de casas empilhadas e ruas perigosas. O excesso incontrolado da população fazia com que roubos e outros delitos fossem banais, acrescidos de incêndios devidos ao amontoado de casas em madeira. Um pequeno lume , para lá de uma cozinha ,ou uma lâmpada de azeite que não fora apagada, podiam provocar um incêndio e destruir bairros inteiros.O corpo de bombeiros,formado por 600 escravos, não tinha mãos a medir, numa cidade onde havia 100 pequenos incêndios diários.Poucos anos depois ,o número de bombeiros e vigilantes era de 7000,organizados por bairros, mas o perigo de incêndios continuava. Meio século após a morte de Augusto, já com Nero no poder, tudo continuava na mesma na administração e vida diária até que, um grande incêndio, tudo mudou.
Parece que o fogo começou de maneira acidental, na noite de 18 para 19 de Julho , em artigos inflamáveis do mercado junto ao Circo Máximo, onde se praticavam corridas de carros. Favorecidas pelo descampado do terreno, o calor do verão e os ventos de sudeste, as chamas propagaram-se ás habitações vizinhas. Os bombeiros do bairro mobilizaram-se com rapidez, mas nada puderam fazer quando as chamas atingiram as
insulae, casas de vários pisos , ligadas umas ás outras e construídas com interiores de madeira. O incêndio expandiu-se em várias direcções, subiu os montes Palatino e Célio, devorando as elegantes casas senatoriais ; uma língua de fogo atingiu o porto fluvial, tomando novo alento ao encontrar os armazéns cheios de lenha e azeite. Em pouco tempo toda a cidade ardia, até mesmo os bairros mais distantes ; a confusão era enorme e a população que tentava fugir para os campos ,acabava por se ver rodeada de chamas, sem fuga possível. O fogo extinguiu-se ao fim de seis dias e sete noites mas, quando tudo parecia ter terminado, novo incêndio que durou três dias, apareceu no sector Emiliano, uma zona onde se haviam demolido muitos edifícios para travar o incêndio inicial. Embora com menos mortes, os danos foram maiores, destruindo templos e monumentos. Quando tudo terminou , Roma era uma cidade fumegante com milhares de mortos e três quartos da sua área reduzida a cinzas. Arderam mais de 4.000
insulae e 132 casas aristocráticas. Ninguém se livrou da catástrofe : os prejudicados iam desde as classes humildes e média, até á cúpula da Roma imperial. Ouro, jóias, documentos, mobiliário e outros bens, tudo desaparecera e com isso um dos pilares da economia romana. Ora, aquando do incêndio, o imperador Nero estava muito mal visto, não só pelas suas excentricidades, mas também pelo assassinato de cidadãos ricos afim de ficar com os bens e encher os cofres do Estado e, desta forma, poder distribuir dinheiro e alimentos pela plebe, tornando-se popular. Mas os "
patrícios " também sabiam jogar sujo: aproveitando o incêndio, fizeram correr o boato de que este fora ordem de Nero. Como os romanos começaram a dar crédito ao rumor, Nero tratou de desviar as atenções, atribuindo o incêndio aos cristãos, vistos como sectários, supersticiosos e imorais. Presos alguns cristãos influentes, após tortura, confessaram ser os autores do incêndio e daí a feroz perseguição aos cristãos por parte dos romanos . Quando começou o incêndio, Nero estava em Anzio e é pouco provável que,ao chegar á cidade, se tivesse posto a tocar lira e a cantar a ruína de Troia, enquanto observava Roma a arder.
É que a sua própria mansão, a Domus Transitória,também ardia e com ela as suas valiosas colecções de arte e joias. Será difícil saber a verdade já que os seus inimigos, os adversários e os cristãos tinham interesse em denegrir a sua imagem. Verosímel é que Nero tenha beneficiado com o incêndio ,mas não foi o seu autor. Embora após o incêndio, construísse um palácio melhor que o anterior, Nero actuou como um governante sensível ante a desgraça dos seus súbditos . Para alojar as vítimas, mandou abrir o Campo de Marte -alojamento das legiões- bem como os seus jardins privados. Organizou uma cadeia logística para os abastecer de comida e desceu o preço do trigo para um valor irrisório; empreendeu um ambicioso projecto urbanístico para Roma que beneficiou a população e, em vez de aumentar os impostos nas Províncias, o estado contribuiu com dinheiros e materiais para a reconstrução . Por decreto, as casas de vários andares, cinco no máximo, foram construídas em pedra e tijolo, e espaçadas entre si; em cada lar deveria haver material contra incêncios como areia, mantas e água. Os carros que transportavam para Roma as provisões extra de alimentos, deviam levar de retorno os escombros carbonizados que seriam depositados nos pântanos de Óstia, acabando-se assim com os focos de malária. Os actuais engenheiros de incêndios que estudaram este caso, chegaram á conclusão que problemas arquitecturais levaram á formação de chaminés naturais que activaram as chamas, mesmo contra a direcção dos ventos, e que a sua propagação não foi devida a pirómanos com tochas ,espalhados pela cidade. Neste caso, NERO DEVE SER INOCENTADO .
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