19.5.08

F O M E

Agora que tanto se fala em biocombustível, paira de novo,sobre o mundo globalizado, o espectro da fome. Dir-se-à que as" fomes "são tão antigas como o Homem ; que existiam no tempo dos Romanos, ou que na China são vulgares, como o são na India,desde a idade média : que África sempre teve fomes devastadoras, mesmo no período colonial e pós -independência, com casos mediáticos como Etiópia, Congo, Zimbabwé ou Darfur. Nem sempre foram causadas pela natureza, com pragas ou secas, mas pelo homem e por motivos políticos. Só no séc.XX, na Ucrânia por ordem de Stalin: na Grécia e Polónia sob ocupação Nazi; no Camboja sob o regime de Pol Pot ; na China com o " salto em frente" de Mao-Tsé-Tung , houve fomes provocadas. Vejamos alguns destes casos : Após a morte de Lenin, e depois de desembaraçar-se dos seus rivais, Stalin empreendeu, em 1929, um projecto gigantesco denominado 1º Plano Quinquenal. Este era um pacote de medidas, com duração de cinco anos, que conferia ao Estado o controlo absoluto da economia. O objectivo era transformar a URSS, até aí país de economia agro-pecuária, numa potência industrial. O plano começou com a colectivização das terras desapossando os seus proprietários. Na Ucrânia, conhecida como celeiro da Europa, houve forte oposição a esta medida que Stalin reprimiu com violência brutal ; houve fusilamentos, torturas e deportações para a Sibéria, onde os presos trabalhavam em condições infra-humanas. Dez milhões de Ucranianos foram despojados das suas terras e como Stalin exigira ao país ,uma quota de alimentos mais alta que o habitual, provocou, em 1933,uma fome em que morreram 7 milhões de ucranianos. O desespero foi tal que comiam folhas de árvores, cães , gatos , ratazanas e até cadáveres humanos .

Hitler, na sua ambição e levado por ideias genocidas, causou a morte pela fome a milhões de pessoas, no gueto de Varsóvia, na Grécia ocupada e durante o cerco de Leningrado, isto sem esquecer os campos de concentração para os judeus. Na China, entre 1958 e 1961, milhões morreram de fome, consequência das ideias de Mao e do seu plano totalitário comunista, tal como no Cambodja, de 1975 a 1979, durante o sangrento regime dos Kemeres vermelhos liderados por Pol Pot. Estes líderes comunistas inspiraram-se , de certo modo, em Stalin e na sua obsessão de reformar a sociedade sem ter em conta as vidas humanas. Na Etiópia, a fome é um fenómeno recorrente: nos finais do século XIX , uma fome ,provocada pela seca, durou 4 anos e foi acompanhada de epidemias de tifo, cólera e varíola; no século xx, entre 1973 e 1974, faleceram 200.000 etíopes devido a falta de alimentos, crise que, por ser mal gerida, levou a um golpe de estado que derrubou o imperador Hailé Sellasié.Nos nossos dias, são os senhores tribais da guerra que continuam a provocar a fome nesta região. Na década de 80 , vinte países africanos perderam as suas colheitas devido a uma scca que reduziu ao mínimo rios e lagos, provocando um milhão de mortos. A tomada de consciência da comunidade internacional, para estes casos,foi incentivada por iniciativas como o famoso Live Aid protagonizado por cantores e grupos rock. Só o envio massiço de alimentos conseguiu travar a calamidade.

Em 2008, o desvio de culturas cerealíferas para produzir biodiesel e a especulação de preços a esse facto associada, estão a provocar um crescente receio de fome a nível mundial e, neste caso, só o homem é culpado. Há pouco tempo, o Banco Mundial revelou que a crise de alimentos já está a afectar 100 milhões de pessoas, mas, se não for encontrada uma solução rápida, o número poderá atingir 300 milhões. Qualquer leigo na matéria sabe de três soluções para debelar o problema : 1º-Em vez de só enviar alimentos aos países pobres, devem ser fornecidas sementes de elevada produção e melhores fertilizantes. Esta política permitiu ao Malawi duplicar a produção em três anos. 2º- Acabar com o subsídio ao milho para o biodiesel, pois existem plantas não alimentares que servem para o mesmo fim. 3º- A construção de reservatórios de água, nos países mais afetados pelas secas, pode fazer a diferença num ano pouco pluvioso. A ideia de um fundo para tal fim já existe, mas ainda não saiu do papel.

Sem comentários:

Arquivo do blogue