24.12.10

ESCRIBAS


Podemos dizer que um escriba é todo aquele que escreve, isto é, todo aquele que utilizando símbolos , transmite manualmente uma mensagem. Ainda nos nossos dias há escribas , só que lhe chamamos escriturários.
No antigo Egipto, um escriba era uma importante figura na administração a nível civil, militar e religioso, pois a maioria dos egípcios não sabia ler nem escrever e quando precisava redigir ou ler um documento via-se obrigada a pagar o serviço de um escriba. Ser escriba não era tarefa fácil pois eram necessários cerca de 12 anos para que alguém estivesse em condições de ler e escrever os cerca de 700 hieróglifos que eram usados 1500 anos antes de Cristo e os estudos podiam começar aos quatro anos de idade. A habilidade para escrever garantia uma posição superior na sociedade e a possibilidade de progresso na carreira.. Um texto destinado a instruir os escribas, usado durante o Império Novo, garantia:
Seja um escriba. Isso o salvará da labuta e o protegerá de todo tipo de trabalho .Será poupado à enxada e ao alvião, de forma que não terá que carregar cestas. Ficará livre de manipular o remo e será poupado de todo tipo de sofrimento.
Mas então a escrita no Egipto era uma coisa assim tão difícil para que o escriba fosse tão considerado ?
Há cerca de 3000 anos , os Egípcios desenvolveram uma forma de escrever assente em vários pictogramas (imagens figurativas que representam coisas), mas também em fonogramas (símbolos que representam sons) . Meticulosamente gravados, os hieróglifos associavam, os símbolos fonéticos às imagens de objectos reais comuns, como plantas ,animais ,barcos, etc. A precisão e a minúcia da execução estavam ligadas também ao uso simbólico das cores. Escrevia-se da direita para a esquerda ou da esquerda para a direita e também na vertical. A direcção da leitura era indicada pela direcção do olhar de certos símbolos que representavam homens ou animais. Este sistema de escrita recebeu a designação de "hieroglífica" (do grego hieros que significa sagrado, e ghyhhein que significa gravar) e foi criado para descrever os rituais religiosos , as comemorações de acontecimentos militares e, em última instância, até servir como agradecimento a um governante por qualquer dádiva. A escrita hieroglífica era utilizada nos documentos da vida pública e nas inscrições mais importantes. Mais tarde (cerca de 2400 AC) e por comodidade no dia-a-dia, os Egípcios desenvolveram uma forma simplificada de hieróglifos. É escrita hierática (cursiva) utilizada pelos sacerdotes nos textos sagrados ,e está adaptada ao movimento da pena molhada em tinta sobre o papiro macio. Para economizar tempo e esforço cada sinal hieroglífico foi esquematizado e até aparecem ligados entre si para que a mão não se levantasse. Escrevia-se da direita para a esquerda. Mas a dada altura, também a hierática deixou de responder à procura e exigências do quotidiano. Foi então que no Egipto se idealizou a escrita demótica (designada, então, a "escrita do povo"), por volta de 500 anos antes da nossa era, sendo que esta constituía uma redução da hierática que, por si só e como dissemos atrás, já era uma redução da hieroglífica. Relativamente ao suporte onde eram escritos, há a registar uma evolução desde o hieróglifo ao demótico, e que vai desde as inscrições de objectos em barro cozido, passando pelas pinturas nas paredes dos templos e das câmaras funerárias, em pedra e madeira, culminando com a utilização do papiro nos manuscritos. Efectivamente, o papiro – invenção atribuída ao povo egípcio –, foi o material mais importante para o segundo sistema de escrita, a partir das plantas que cresciam nas margens do rio Nilo. Estamos a falar das plantas papiros que cresciam nas terras pantanosas da foz do Nilo e cujos caules chegavam a ter quatro metros de altura, caules esses que eram cortados e justapostos às camadas numa superfície lisa, sendo que sobre a última camada era colocada uma pesada pedra lisa com a finalidade de fazer compressão dos caules . A pressão exercida fazia com que a seiva e a humidade das plantas, em contacto com a água, produzissem uma espécie de substância gelatinosa, que colava umas camadas às outras. Uma vez secas, as "folhas" eram postas em pilha e banhadas em azeite, ao que se seguia a tarefa de as alisar com a ajuda de uma pedra ( ágata).Mais tarde, os Romanos introduziram neste processo uma inovação que resultaria numa melhor qualidade do produto final: a aplicação de cola de amido para unir as fibras e assim neste papel se escreveu até ao nosso século XVIII.
A substituição do papiro pelo pergaminho teve lugar quando os Fenícios deixaram de exportar as folhas de papiro para a Ásia. O pergaminho era obtido a partir das peles de animais (como as ovelhas e as cabras), depois de esticadas, secas e polidas, após um banho em cal, por forma a evitar o mau cheiro. Já secas, as peles eram esfregadas dos dois lados com ajuda de argila e pedra-pomes. Este novo processo de obtenção de material para escrita tinha a vantagem de ser mais duradouro e de permitir a reunião das várias folhas em formato de livro, mas é destronado com o aparecimento do papel o que acontece em 1800 d. C.
Voltando ao assunto do tema, o escriba foi um aliado do Faraó e por isso as célebres estátuas de escribas sentados, com um rolo de papiro sobre os joelhos, são o melhor reflexo do seu estatuto social. Organizavam-se em torno de uma hierarquia de directores no cimo da qual se encontrava o visir, mão direita do Faraó. Que se tenha conhecimento não existiram escribas do sexo feminino, embora certas filhas de escribas tenham aprendido a ler e a escrever, mas foi muito raro. Hoje sabemos o nome de muitos escribas pois assinaram documentos ; é o caso de Pentaur, autor do célebre poema da batalha de Qadesh para glória de Ramsés II; é o caso de Imhotep, construtor da pirâmide de Saqqara ou ainda o de Amenhotep, filho de Hapu, visir de Amenhotep III.

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