24.3.10

O ALÉM DOS EGIPCIOS

Para os egípcios , a morte era a separação das cinco partes que constituíam o ser humano ; três estavam directamente ligadas ao físico e eram o khet (corpo), o shut (sombra) e o ren (nome) ; a duas imateriais seriam o Ka, uma ínfima porção da energia universal cósmica que a pessoa recebia ao nascer e desaparecia com a morte e o ba que poderíamos designar como a personalidade. O nome, atribuído ao nascer, ,era muito importante, pois ele tinha de ser reconhecido e recordado na outra vida . Um dos piores castigos que um egípcio podia sofrer era apagarem-lhe o nome de documentos ou de outro qualquer local pois cairia no esquecimento eterno . A sombra era a imagem do lado negativo do indivíduo enquanto vivente. Como as referidas cinco partes deveriam voltar a juntar-se no Além , uma série de procedimentos teriam de ser executados logo a seguir ao óbito. A preservação do corpo era imprescindível, daí terem de o mumificar. O processo mais perfeito demorava 70 dias e era realizado em fases bem diferenciadas. A mumificação dependia do dinheiro que os familiares do defunto podiam pagar; na realidade havia três qualidades de embalsamamento e só os ricos acediam ao mais elaborado. Os mais pobres tinham de contentar-se com uma limpeza abrasiva das entranhas e a um banho com uma solução de carbonato de sódio para desidratar o corpo mumificando-o. Um tratamento médio consistia em injectar óleo de cedro no abdómen, e o corpo lavado com carbonato de sódio. Passados alguns dias ao retirar-se o óleo de cedro este arrastava consigo os órgãos internos desfeitos e o corpo era enfaixado. Junto à múmia eram colocados amuletos e recitadas fórmulas mágicas para a preservação do corpo.
No caso dos ricos, o corpo era primeiro purificado lavando-o com água fresca perfumada e pelos orifícios nasais era retirada a maior quantidade possível de massa encefálica . Através de um incisão no lado esquerdo do cadáver eram retiradas as vísceras que se embalsamavam em separado e posteriormente guardadas em vasos especiais (vasos canopos) . Esvaziado o corpo este era lavado com vinho de palma e especiarias e recheado com mirra , incenso , carbonato de sódio e perfumes. De seguida era coberto de carbonato de sódio durante 36 dias. Passado este tempo o corpo era retocado e pintado para melhorar o aspecto ; assim o golpe lateral por onde tinham retirado as vísceras era disfarçado com uma camada de cera ou com uma placa de ouro e todos os orifícios naturais tamponados com uma resina. Os dedos eram cobertos com grandes dedais para não se desfazerem. Terminada esta cosmética o corpo era enfaixado numa operação dupla com ligaduras de linho. Após tudo isto fazia-se o funeral. Este consistia numa procissão solene em que o cadáver era levado num andor , por vezes em forma de barca, sob uma cobertura colorida, Uma parelha de bois levava o caixão juntamente com uma caixa onde iam os vasos canopo que continham as vísceras e um enigmático tekenu . Um sacerdote abria o cortejo oferecendo libações e incenso; seguiam-no os familiares e os amigos , as carpideiras e outros sacerdotes menores. Também eram transportados os objectos pessoais do falecido tais como móveis , vestidos, jóias ,perfumes, armas, comida e bebidas e até estatuetas de criados que se transformariam em seres reais no Além, tudo para que nada faltasse ao defunto na outra vida. Para que o falecido pudesse ressuscitar era necessário ainda despertar os sentidos o que era realizado numa complexa cerimónia , conhecida como abertura da boca . Esta cerimónia era presidida pelo filho herdeiro que a oficiava como sacerdote, coberto por uma pele de felino, No fim deste longo e complexo ritual a múmia era finalmente colocada no sarcófago e o túmulo selado

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