12.12.09

MOSTEIRO DE SANTA CRUZ -Coimbra

O Mosteiro de Santa Cruz , localizado na baixa de Coimbra , foi fundado em 1131 por D. Telo (São Teotónio) e mais onze religiosos da ordem de Santo Agostinho. Sob a égide de D. Afonso Henriques, foi uma das melhores instituições de ensino no Portugal medieval ,chegando a ter uma grande biblioteca e um scriptorium. O espólio dessa antiga biblioteca encontra-se hoje na Biblioteca Municipal do Porto. Como ilustres alunos desta escola conventual destacamos Fernando Martins de Bulhões, o célebre Santo António de Lisboa, em 1220 , e Luis Vaz de Camões em 1540 (?). Do edifício primitivo, construído em estilo românico entre 1122 e 1223 , já pouco resta. A fachada tinha uma torre central avançada , dotada de um portal encimado por uma grande janela , parecendo-se muito com a Sé Velha da cidade. Alguns aspectos da fachada românica ainda são visíveis por detrás de toda a decoração posterior.

Foi D. Manuel I quem ordenou a modificação da arquitectura externa e interna do mosteiro por o achar pouco digno de albergar os restos mortais dos dois primeiros reis de Portugal. Assim, a fachada românica ganhou duas torres laterais com pináculos e uma platibanda ,obra iniciada em 1507. (ver foto acima )Cerca de uma dezena de anos mais tarde, entre 1522 e 1526,foi-lhe acrescentado um portal cenográfico, em pedra de Ançã. obra de Diogo de Castilho e de Nicolau de Chanterenne. Esta obra escultórica está muito degradada pelas chuvas ácidas que corroeram a pedra. As modificações no interior da igreja foram também enormes e desta feita toda a nave foi coberta por uma abóbada manuelina. Junto à entrada foi construído um coro alto, também obra de Diogo de Castilho, tendo este coro um magnífico cadeiral, de madeira esculpida e dourada, obra do mestre entalhador flamengo Machim. No sec.XVIII foi instalado um orgão novo, estilo barroco ,e as paredes foram cobertas de azulejos com motivos bíblicos. ( ver foto seguinte)

No lado esquerdo da nave única está um belo púlpito esculpido em calcário, datado de 1521 , também obra de Nicolau de Chanterenne. Das alterações mandadas efectuar pelo rei D. Manuel I constam a mudança dos restos mortais de D. Afonso Henriques e de seu filho D. Sancho I, das antigas arcas tumulares junto á fachada românica, para novos túmulos na capela -mor. Estes túmulos, um de cada lado, são parecidos , de estilo gótico-renascentista, concluídos em 1520 e mais uma vez obra de Nicolau Chanterenne e seus discípulos.Mostramos a seguir o túmulo de D. Sancho I que se encontra do lado direito da capela-mor.
A sacristia é de estilo maneirista está decorada com azulejos seiscentistas e tem quadros a óleo de Grão Vasco, entre outros. O Claustro do Silêncio (1517-1522) tem uma decoração manuelina, possuindo anexo uma sala do capítulo com uma capela datada de 1588 , onde se encontram os restos do do fundador do mosteiro.( ver fotos sguintes de Daniel Tiago)

Fora do espaço físico do mosteiro e paralelo ao claustro do Silêncio, está um outro claustro designado da Manga , construído na década de 1530 e obra de João de Ruão. Hoje é um jardim público, entre edifícios modernos que nada têm a ver com o mosteiro,como se pode observar na foto seguinte.

Podemos dizer que os primitivos terrenos agrícolas do mosteiro continuavam para o lado direito da foto anterior, por onde hoje estão os CTT e o Mercado Municipal, continuando pela avenida Sà da Bandeira até ao Jardim da Sereia ou Parque de Santa Cruz. Quem visita a igreja não encontra torre sineira mas ela situava-se em frente ao Claustro da Manga, do outro lado da rua Olimpio Nicolau Fernandes.
A torre estava entre o antigo celeiro do mosteiro (hoje esquadra da PSP) e a enfermaria do referido mosteiro(hoje escola Jaime Cortezão, ex-Escola Comercial e Industrial Avelar Brotero) Em 3 de Janeiro de 1935 a torre foi derrubada pelos bombeiros, com jactos de água nas suas fundações , pois havia muito tempo que ameaçava ruína. A foto a seguir mostra o momento da queda .
No seu lugar ,e só passados cinquenta anos , foram ali construídas uma escadas para dar acesso á rua de Montarroio. Estas escadas têm uma fonte , denominada Fonte dos Judeus que estava originalmente junto ao mercado , no início da av. Sá da Bandeira.
Outras secções do mosteiro há muito tinham sido demolidas para dar lugar ao Edifício da Câmara e outras dependências. No que respeita ao actual Café Santa Cruz,colado ao mosteiro e parecendo fazer parte dele a história resumida é a seguinte: no ano de 1530 frei Brás Braga foi nomeado ,por D.João III ,reformador dos colégios existentes na cidade. Frei Brás Braga decidiu que Santa Cruz ficaria só para os frades crúzios e que para igreja paroquial se construiria ao lado uma nova igreja conhecida como S. João de Santa Cruz, o que veio a acontecer. Com a supressão das ordens religiosas (1834) a paróquia é de novo transferida para Santa Cruz e a igreja de S. João ficou inactiva e meio abandonada. Conheceu muitas funções comerciais, foi quartel de bombeiros,esquadra de polícia, até que em 8 de Maio de 1923 se transforma em café com o piso elevado.

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