6.5.09

A RADIODIFUSÃO COMO ARMA DE GUERRA

As guerras mundiais do século XX não foram só feitas com armas letais como os gases, as bombas incendiárias, as granadas de morteiro e de obus, mísseis , etc ,mas também com emissões radiofónicas que nada têm a ver com radares ou comunicações militares. Um exemplo do que acabámos de referir passou-se em Portugal, país neutral na guerra de 1939-45 mas que, durante a chamada "guerra fria", foi actor importante na guerra radiofónica. Vejamos os factos : finda a segunda guerra mundial, a URSS desentende-se com os USA por causa da partilha da Alemanha e da cidade de Berlim e ocupa países do Leste Europeu como a Polónia,Checoseslováquia ,Hungria, etc, formando os chamados países da "cortina de ferro" e dando origem á guerra fria, uma guerra ideológica sem armas. Os Estados Unidos da América resolvem , por isso, criar a Radio Free Europe ( rádio europa livre) com a finalidade de emitir programas de rádio , em onda curta, direccionados aos países ocupados pela URSS e nas suas próprias línguas. Para que tal fosse possível, era necessário colocar os emissores em local correcto por forma ás ondas de rádio irem incidir naqueles países com um forte sinal e escuta razoável. O local ideal recaiu numa zona de Portugal denominada Glória do Ribatejo, local semidesabitado onde foi montado o maior centro emissor da REL (Rádio Europa Livre). Este complexo de emissores e grandes antenas transmitia continuamente programas de ideologia capitalista para os países dominados pelo comunismo e funcionou mais de 40 anos , até á queda da dominação soviética da URSS. O local da REL , com cerca de 196 hectares , onde estavam instaladas gigantescas antenas além de edifícios de apoio aos emissores, está hoje desocupado , tendo as antenas e o material de emissores sido desmantelado. Estas instalações da REL eram denominadas de RARET - sociedade anónima de rádio retransmissão e fora criada ,em 1951, para retransmitir os programas da Rádio Europa Livre cujos estúdios estavam em Munique (Alemanha). Segundo Manuel Cardoso ,engenheiro da RARET, os conteúdos programáticos eram de forma a seduzir os ouvintes dos países-alvo para as vantagens do mundo ocidental e assim, notícias censuradas ou leituras de obras proíbidas pelos regimes comunistas faziam parte da grelha da REL, gravadas com a voz de exilados políticos que se encontravam em Munique. Isto é explicado por outro ex-funcionário da RARET o Sr Mário Portugal L. Faria quando diz: " Salazar só permitia que servíssemos de espelho, ou seja, que recebêssemos e retransmitíssemos os programas vindos de Munique ." Para tal a RARET estava ligada a um importante centro de escuta na Maxoqueira (Benavente) que recebia as emissões de Holzkirchen ,oriundas dos estúdios de Munique, e as gravava ou reencaminhava logo para os diferentes emissores da Glória do Ribatejo. Estes emissores da Glória, com centenas de KWatts de potência, tinham as antenas dirigidas para a Roménia, Checoslováquia , Polónia,Hungria e Bulgária e, a partir dos anos 60, para países comunistas do médio oriente , num total de 18 línguas diferentes. Esta aparente confusão de emissões vindas da Alemanha para Portugal onde eram captadas, melhoradas tecnicamente , estruturadas conforme os países e emitidas posteriormente em diferentes comprimentos de onda , logo por diferentes emissores, só vem demonstrar a importância da radiodifusão na guerra psicológica. Em época mais recente , na guerra do Iraque , um dos primeiros edifícios que os EUA destruíram foi o dos estúdios da Rádio Bagdá, propriedade do Governo . Logo que esta deixou de emitir , aviões americanos passaram a sobrevoar o país com emissores potentes em onda curta,AM e FM emitindo música árabe e mensagens para que o povo deixasse de apoiar Saddam. A potência destes emissores era tal que abafava as outras emissoras locais do Iraque , criando na população um sentimento antiSaddan e a desmoralização nas tropas . A Rádio Iraque Livre chegou a ter emissões contínuas de cinco horas diárias . Esta táctica de guerra psicológica é muito eficiente , pois a rádio chega muito longe e é montada com facilidade durante um confronto. Também não é por acaso que, mesmo em tempo de paz, os países mantêm no ar programas radiofónicos em onda curta , destinados a outros países e na língua destes , numa constante acção de propaganda . A BBC, a Rádio Moscovo, a Rádio Neetherland, a Voz da América, a RDP África e até a Rádio Vaticana e outras mais por todo o lado, têm emissões em várias línguas e são exemplo da força psicológica deste meio de informação e contrainformação. A fotografia com que terminamos este apontamento refere-se ás antenas de onda curta da Rádio Vaticana.

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