1.9.08

A ROTA DA SEDA

Quem diria que a larva de um simples insecto, cuja espécie é classificada cientificamente de Bombyx mon, fosse originar uma tão grande revolução comercial entre o oriente e o ocidente, isto há 4.000 anos. As larvas ,oriundas das centenas de ovos postos pelo insecto, alimentando-se constantemente de folhas de amoreira , têm um período de vida de 40 dias findo os quais constroem casulos onde se encerram para se transformarem em novos insectos. É destes casulos, construídos durante três dias e três noites que se retira a seda. Cada casulo é formado por um único fio de material proteico fabricado pelas glândulas salivares da larva (bicho da seda). Este fio de baba , com cerca de 1200 metros, solidifica instantaneamente em contacto com o ar, podendo ser retirado se colocarmos o casulo intacto em água a ferver. Hoje, como no passado, um tecido de seda natural é um luxo pese embora o produto já não ser exclusivo da longínqua e interdita China, como acontecia na dinastia HAN. Segundo registos da época ,a seda além de macia e bonita tinha poderes mágicos contra a chuva e trovoadas. Para chegar á Europa, fazia um longo percurso terrestre, de cerca de 6.000 kms, entre Chang' an (capital do país na dinastia Tang) e Constantinopla no Maditerrânio. Este trajecto, longo e difícil, atravessava montanhas, desertos, oásis, ás vezes a altitudes superiores aos 2.500 metros, era feito em caravanas de camelos e foi designado de Rota da Seda, embora outros produtos como pérolas e pedras preciosas fossem também comercializadas. A viagem durava cerca de um ano e estava sujeita aos ataques de salteadores. Havia a possibilidade de transporte marítimo desde Cantão até ao mar Mediterrânio, passando pelo sul da Índia e da Península Arábica, mas embora mais rápida e com maior volume de carga, estava contudo sujeita a tempestades, naufrágios e pirataria. O caminho terrestre não era um único havendo, em algumas zonas, alternativas para evitar assaltos ou situações climáticas adversas. A seda que já conhecida na China 2000 anos antes de Cristo, começou a ser usada na Europa só nos últimos dois séculos ,antes da nossa era. O segrêdo do seu fabrico manteve-se muito bem guardado até ao século VI; parece que, por esta altura, alguém terá trazido, ás escondidas ,alguns bichos da seda para a Europa e aqui reproduziram-se tanto que acabaram com o monopólio da China. A rota da seda, importante sobre o ponto de vista comercial, influenciou também a maneira de pensar e a cultura dos povos por onde passou, muito especialmente no aspecto religioso, pois com os comerciantes viajavam monges ,soldados e aventureiros. Desta forma expandiu-se o Budismo e o Islãmismo até terras orientais da China. Quando os países da Europa já tinham a sua própria produção de seda, o comércio com a Ásia virou-se para as especiarias e daí uma luta pelo controlo das rotas marítimas, terminando o interesse pela rota terrestre. Importante para o crescimento da rota marítima foi o feito dos portugueses ao descobrir o caminho marítimo para a Índia através do cabo da Boa Esperança , o que evitava os ataques de piratas . A paixão pela legendária Rota da Seda mantem-se ainda hoje com exploradores, geógrafos e aventureiros a percorre-la , agora em caravanas de camiões com telefone de satélite, GPS, e outras comodidades modernas. Existem muitas lendas em torno do fabrico da seda: uma delas diz-nos que foi descoberta ,por acaso, por uma raínha chinesa que, quando tomava chá sob uma amoreira, um casulo de bicho da seda terá caído na sua chávena de chá a ferver e , desta forma, soltou o fio de seda. O processo para desmanchar o casulo ainda continua hoje a ser o mesmo,isto é, mergulhá-los em água a ferver. Na China a deusa da seda é a imperatriz Hsi Ling Shi que teria inventado o tear. A figura ao lado é uma antiga pintura chinesa em um biombo, onde se observa um recipiente cheio de casulos em água a ferver e um tambor para enrolar o fio de seda que se vai soltando dos casulos.

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